Os médicos do Hospital de Caldas da Rainha, que integram o Centro Hospitalar do Oeste, alertaram hoje o bastonário da Ordem dos Médicos para a falta de recursos humanos nas várias especialidades.
Carlos Cortes reuniu-se com os profissionais de saúde nas Caldas da Rainha, respondendo assim ao pedido de ajuda que lhe foi dirigido. “Foi uma reunião de sensivelmente uma hora e meia, mas muito participada. Aquilo que foi referido por várias especialidades foram as suas dificuldades em termos de recursos humanos, nomeadamente na cirurgia, anestesiologia, ginecologia/obstetrícia, pediatria, medicina interna, psiquiatria e pedopsiquiatria, entre outras. Todos referiram as suas dificuldades em termos de recursos humanos da instituição”, relatou.
Segundo o bastonário, muito trabalho da urgência é assegurado por prestadores de serviço, no entanto, “grande parte da actividade está centrada na urgência, o que impede os médicos de se poderem concentrar noutro tipo de actividade, nomeadamente na enfermaria, nas consultas ou na actividade cirúrgica programada, que é absolutamente essencial”.
“Se as pessoas não têm consultas, não são bem tratadas no internamento, não são operadas nos tempos correctos, entramos no círculo vicioso e os utentes acabam por agudizar o seu problema de saúde e depois têm de ir à urgência. Falou-se muito desta carência de recursos humanos e também foi espelhada alguma falta de organização do Centro Hospital do Oeste, que funciona muito pouco como centro hospitalar”, acrescentou.
Carlos Cortes salientou ainda que os médicos querem que, de uma vez por todas, se construa o novo hospital. “A prioridade não é este conflito da localização, mas existir um hospital e condições para os médicos se fixarem nesta zona”.
O bastonário adiantou que se deparou com médicos “revoltados e chateados por não terem as condições adequadas para poder tratar os seus doentes”. “Apesar disso, dão o máximo que têm para com o muito pouco que o centro hospitalar tem tido nestes últimos tempo. Parece que o Ministério da Saúde se esqueceu deste hospital e da zona do Oeste. É uma zona em que há muita carência de médicos, em que a população tem muita dificuldade em encontrar um médico, em ter resposta aos cuidados que necessita. Apelo ao ministro para que resolva rapidamente a questão do novo hospital e crie condições para os médicos se instalarem nesta zona”, reforçou.
Para Carlos Cortes, as condições são as mesmas para todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS): “melhores condições de trabalho para os médicos, dignificação do papel do médico e valorização da sua carreira”.
O Centro Hospitalar do Oeste integra os hospitais de Caldas da Rainha, Peniche (ambos no distrito de Leiria) e Torres Vedras (no distrito de Lisboa).
O bastonário da Ordem dos Médicos defendeu ainda, a criação de um novo SNS para acompanhar a evolução e a modernização da sociedade, apostando numa reforma de fundo.
“Precisamos de um novo SNS. A estrutura da população mudou. Temos uma população muito mais envelhecida e mais exigente do ponto de vista do cuidado. Temos uma ciência, uma tecnologia e uma medicina que evoluíram muito nas últimas décadas, mas parece que os nossos governantes olham para o SNS como há 40 anos”, afirmou Carlos Cortes, que entende que o País precisa de “uma reforma de fundo do SNS, que integre as necessidades dos médicos, mas também de novos modelos organizativos”.
Segundo o bastonário, a intervenção na saúde tem-se resumido a “pequenos remendos e pensos rápidos, que não resolvem absolutamente nada, apesar de no momento parecerem ser uma solução”.
“Veja-se o problema das maternidades, que se arrasta há mais de um ano, o problema da urgência, que cada vez está pior, o problema dos cuidados de saúde primários, com cada vez mais utentes sem médico de família. É preciso uma reestruturação profunda do SNS e repensar a saúde de uma forma moderna”, deixando de “viver nas glórias do passado” do SNS.
“Temos de melhorar o presente e preparar o futuro do SNS. Hoje, o SNS é uma grande urgência no País. Assenta fundamentalmente no serviço de urgência e isso tem de mudar rapidamente”, constatou.
Carlos Cortes entendeu que a solução não passa pela criação de mais Unidades Locais de Saúde (ULS), pois “os piores hospitais”, aqueles que têm “mais dificuldades, estão integrados em ULS”, tais como Beja, Portalegre, Santiago do Cacém, Guarda, Castelo Branco, Bragança e Viana do Castelo.
“Matosinhos é uma excepção porque é uma ULS urbana, onde tudo está numa cidade. Não podemos aferir dos resultados de Matosinhos para o resto do País”, observou.