O número de cesarianas no Centro Hospitalar de Leiria (CHL) diminuiu em 2020 face ao ano anterior, contrariando a tendência nacional. O Governo estabelece penalizações para os hospitais que realizem um terço dos seus partos por cesariana, uma medida que não agrada aos especialistas, que consideram a decisão do parto um acto médico.
Em 2020, o CHL realizou 1876 partos, menos 45 do que no ano anterior. Foram efectuadas 487 cesarianas, uma diminuição de 37 intervenções cirúrgicas face a 2019, e 964 partos normais. Realizaram-se outros partos com recurso a ventosa e fórceps.
António Santiago, director do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do CHL, sublinha que o número de cesarianas é sempre variável, porque dependem “muito das indicações e complicações que surgem, das patologias das grávidas que aparecem e se há mais situações de gémeos, em que o primeiro está de rabito ou primeiras gravidezes em que o bebé está sentado”.
No entanto, o especialista garante que não há cesarianas a pedido e sem critério clínico. “É sempre pela segurança da mãe e do filho. Sabemos da pressão e estamos absolutamente contra que o procedimento médico seja condicionado por motivos economicistas, mas o que [LER_MAIS]determina a decisão pelo tipo de parto é sempre uma indicação clínica.” Segundo explica, quando uma cesariana tem indicação para ser programada o caso é sempre apresentado em reunião de serviço.
António Santiago frisa que o parto vaginal é a melhor opção, porque “tem menos riscos para a mãe e para o recém-nascido”. Uma cesariana implica “uma cirurgia, pelo que não se faz um procedimento com um risco maior, quando é possível o parto vaginal”. Numa cesariana há risco de aumentar a dificuldade respiratória do bebé e a mãe poderá ter complicações associadas à cirurgia tendo também implicações em gravidezes futuras.
“É por isso que a cesariana é uma solução alternativa e apenas quando não é possível o parto vaginal”, nomeadamente quando o bebé se encontra sentado ou suspeita de alteração do seu bem-estar ou quando a mãe tem “indicações precisas de outras especialidades”, em que “são contra-indicados esforços”.
Segundo António Santiago, a decisão de utilizar fórceps ou ventosa surge quando a grávida tem a dilatação completa e já não consegue fazer mais força.
“O parto deve ser num curto espaço de tempo e ajudamos com a ventosa ou com o fórceps para encurtarmos o trabalho de parto. Só se faz quando a cabeça do bebé está encravada, já está muito descida, e por falta de força da mãe. É apenas para acelerar a expulsão do bebé”.
No entanto, se a situação se complicar, António Santiago admite que o obstetra avança para a cesariana. “É sempre uma solução de recurso. Uma cesariana num feto que tem a cabeça encravada também aumenta o risco da mãe rasgar o útero. A recuperação para a mãe é mais complicada e o internamento é mais demorado. Os riscos são sempre maiores do que num parto vaginal.”