Os processos de globalização têm contribuído para debelar a memória coletiva e as tremendas transformações dos finais do século XX fizeram morrer, pouco a pouco, as vivências comunitárias.
Em pleno século XXI surgiu a necessidade de vincar as nossas raízes através da música, da dança, da linguagem, dos usos, dos costumes, do artesanato, da indumentária, dos brinquedos e principalmente da transmissão oral e escrita da nossa tradição, de forma a definir uma política etnográfica integrada.
A referência constante da importância da transmissão oral dos usos e costumes faz com que essa passagem de geração para geração ganhe relevo para os investigadores, sejam eles académicos ou curiosos dedicados, porque a memória dos usos e costumes se foi diluindo ou transformando no tempo, com a transmutação social, cultural e económica de uma determinada região.
É fundamental salvaguardar a memória coletiva de um povo, identificando-a, estudando-a e representando-a da forma fidedigna. Não confundir “povo” como camada de estrato social, mas “povo” como um conjunto de indivíduos de uma determinada região.
Desta forma, é complexo identificar e limitar uma memória através de um período temporal, salientando a teoria do sociólogo francês Maurice Halbwachs (1877-1945), em “Memória Colectiva”, onde defendeu que “os quadros colectivos da memória não se resumem em datas, nomes e fórmulas”, porque “a história começa somente do ponto onde acaba a tradição, momento em que se apaga ou se decompõe a memória social. Enquanto uma lembrança subsiste, é inútil fixá-la por escrito”…
E é nesta procura temporal que se confunde folclore com etnografia no que concerne a essa referência temporal: “Etnografia” é a junção de dois vocábulos gregos: “Ethnos” (raça, cultura, povo) e “Graphein” (escrever, registar). O termo “etnografia” terá surgido em 1873 no “Grande Dicionário Português ou Tesouro da Língua Portuguesa”, de Frei Domingos Vieira (1871-1874). Folclore…
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