O Metadança – Festival de Artes Performativas que teve a sua primeira edição em 2012, no Moinho do Papel, em Leiria, regressa, este ano, até 5 de Maio, ao local onde teve a sua génese, levando a dança em todas as suas formas e expressões ao Teatro José Lúcio da Silva e ao Museu de Leiria.
A aposta na programação centra-se em projectos de dança realizados através de práticas colaborativas ou co-criação.
“Este ano houve uma aposta total nas práticas colaborativas. Por exemplo, esse espectáculo, apesar de ter direcção da Madalena, a criação é partilhada entre uma artista da dança e outra da música, o mesmo acontece com o vídeo-dança, onde a orientação é feita por um artista da dança e um do vídeo… Na curadoria da exposição de fotografia, onde se juntam artistas da fotografia e da dança, acontece o mesmo”, explica João Fernandes, o director artístico deste festival que chega à oitava edição este ano.
Com início também no mesmo museu e patente até ao dia 5 de Maio, estará a exposição/instalação de fotografia de dança contemporânea Profunda Pele, resultado do curso [LER_MAIS] de fotografia de dança contemporânea, promovido pela Fotograf’arte, com a formadora Rute Violante. Esta mostra já foi exibida em Lisboa no âmbito do Festival Inshadow e agora será mostrada em Leiria.
No dia 3 de Maio, às 22:30 horas, será apresentado, no Teatro José Lúcio da Silva (TJLS), um espectáculo de dança contemporânea, com duas peças Cor de Burro Quando Foge, com direcção de Margarida Garcez, e FAKE DANCE, de Ângelo Cid Neto e João Fernandes, que larga por momentos o cargo de director artístico do Metadança e assume aqui o papel de coreógrafo.
“Num espectáculo mais convencional, como este no TJLS, a aposta é sempre, por um lado, apoiar jovens emergentes e, por outro, apresentar duas peças de distintas abordagens estéticas e linguagens coreográficas. Particularmente, acredito que FAKE DANCE é uma peça que vai colocar o público a questionar aquilo que pode ou não ser dança. Encontra-se de tudo, desde o lado mais teatral, ao mais dançado… Da dança contemporânea, ao hip-hop ou ao ballet clássico. Costumo brincar e dizer que é um ‘espectáculo de variedades’, mas é talvez dos trabalhos mais profundos, em termos de reflexão do mundo em que vivemos, onde participei, até hoje”, conta o coreógrafo.
Residência artística no Moinho do Papel
Durante uma semana, de 27 de Abril a 3 de Maio, 12 finalistas da Licenciatura em Dança da Escola Superior de Dança (ESB), de Lisboa, vão estar em residência artística no Moinho do Papel, a preparar um espectáculo com seis apresentações, nos dias 4 e 5 de Maio às 11:30, às 14:30 e às 16 horas, em formato site specific.
Além disso, os espectadores poderão assistir a um loop de sete vídeos-dança, criados, naquele espaço, por finalistas da ESD, e orientados por Bruno Duarte, coreógrafo natural de Leiria, e pelo realizador Tomás Pereira.
“Já há vários anos que nos falavam em voltar ao Moinho do Papel. Realmente, aquele espaço tem características muito particulares, fundamentalmente, pela sua ligação ao rio. Há uma magia que encantou no site specific que lá foi feito na primeira edição e, além disso, quando começámos a conceptualizar esta oitava edição, tudo nos levava a voltar ali, até porque revisitar os espaços cria-nos outras formas de leitura dos mesmos e outras abordagens. A criação em site specific dá-nos isso, fazendo com que os espectáculos sejam sempre irrepetíveis e únicos”, explica o director artístico do festival.
Nas últimas oito edições, o evento levou a dança a vários pontos da cidade, povoando largos, praças, monumentos e espaços nobres, reclamando-os para a expressão corporal; Centro de Diálogo Intercultural, m|i|mo – Museu da Imagem em Movimento, Castelo de Leiria, teatros José Lúcio da Silva e Miguel Franco, Museu de Leiria e a Villa Portela, entre outros, receberam um contributo indelével e ajudaram a tornar Leiria num espaço de criação e pesquisa para artistas emergentes, num esforço de democratização da arte e da cultura, explorando a íntima relação entre o espaço público, a dança e o património.
João Fernandes admite que se deixou inspirar pelo número 8 e com a sua semelhança com o sinal do infinito e de ciclo completo para marcar um regresso à primeira casa do Metadança. Além disso, o festival, que arranca a 27 de Abril, no Dia Mundial da Dança, junta-se também às comemorações do 10.º aniversário do Moinho do Papel enquanto espaço museológico de Leiria.
Até 5 de Maio
PROFUNDA PELE
Exposição/Instalação de Fotografia
De Dança Contemporânea
Museu de Leiria
Até 5 de Maio
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA
Escola Superior de Dança Moinho do Papel
3 de Maio
às 21:30 horas
2 PEÇAS, 2 COREÓGRAFOS
Espectáculo de Dança Contemporânea
Teatro José Lúcio da Silva
É, porém, na simbiose entre o património edificado da cidade, as diferentes formas de expressão pela dança e o público que reside boa parte da essência do festival.
“Essa dinâmica trouxe-nos fundamentalmente outros tipos de públicos e uma mudança de paradigma. Continuamos a acreditar que criar para os espaços não convencionais trabalha outras valências importantes da dança e da performance. O objectivo é sempre trazer algo diferente daquilo que é o comum. Tem sido um crescimento incrível, até porque, de edição para edição, temos tido uma adesão que nos surpreende. Obviamente, não somos um evento para massas mas conseguimos, por um lado, chegar a públicos interessados nestas abordagens e, por outro, mudar a visão e criar o interesse ao público mais convencional”, refere o programador, recordando que, em 2012, tinha a ideia, de que ainda encontra sinais, de que Leiria era muito apegada a cânones e a uma tradição convencional da dança.
“A nossa missão é mostrar outras abordagens, informar e mostrar que o mundo do espectáculo não é só realizado nos teatros. E, na verdade, com este projecto, Leiria aproximou-se também de abordagens que são apresentadas no centro da Europa, criando pontes e, especialmente, promovendo uma maior acessibilidade e democratização da arte e da cultura.”
O Metadança surgiu, em 2012, numa época de grande implantação associativa e num momento onde o voluntariado pela causa cultural contagiava muitos jovens de Leiria. De lá para cá, qual é a sua visão da cidade neste capítulo?
Admito que tenho estado um pouco afastado desse mundo. O associativismo começa sempre com um grande fôlego, mas depois é sempre centrado em meia-dúzia de pessoas que acabam por não deixar morrer os projectos.
No nosso caso, o trabalho também é feito através de voluntariado e o voluntariado está dependente da disponibilidade de cada um e, talvez por isso, projectos até bastante interessantes vão desaparecendo ou não vão conseguindo crescer ao tamanho da sua ambição.
Por enquanto, e felizmente, vou tendo uma pequena equipa que me vai ajudando na operacionalização do Metadança, porque se não tivesse, com a minha vida em Lisboa, seria muito difícil continuar com o projecto.
Já tem distanciamento suficiente para falar do que aconteceu no ano passado com a exibição no CDIL?
A sillyseason do ano passado já está tão longe. Teve tantos capítulos, tantas dimensões, tanta especulação desnecessária e infundada. Respeito todas as opiniões que possam ser trazidas.
Foram promovidas algumas reflexões sobre este assunto da arte e da religião, com diferentes pontos de vista, pensou-se e reflectiu-se sobre a diferença. Tenho alguma pena que as pessoas que impulsionaram este “drama” não tenham assistido a um espectáculo que foi amplamente divulgado, antes, durante e depois de o Metadança ter acontecido.
Agora continuo sempre com esta dúvida: porquê três meses depois? É estranho, não é? Na altura, falou-se muito em aproveitamento político. Se assim foi, a única coisa que posso sugerir é que quem falou de forma infundada comece a assistir verdadeiramente aos espectáculos e a não fazer afirmações baseadas em conjecturas.