Como é isso de estar ao comando do 5 Para a Meia- Noite?
Tem sido uma boa experiência, no sentido em que tem dado para explorar mais ideias, coisas que já tinha pensado fazer. Mas é mais intenso porque, apesar de já ter trabalhado com alguns apresentadores, não tinha noção dos obstáculos e da confusão que às vezes pode ser fazer um programa destes. Não tinha tanta responsabilidade. E com a Covid-19 há mais obstáculos, com convidados a desmarcar a presença no programa de um dia para o outro.
Que percentagem do desempenho é trabalho e que outra é inspiração?
Não consigo falar em percentagens, mas é mais trabalho do que inspiração. Porque somos obrigados a resolver tantos problemas, que a parte de estar descansado a criar [LER_MAIS]é muito mais reduzida. Aplico mais a inspiração durante o programa em si. Quando o programa começa muda o estado de espírito. A partir daquele momento passo a improvisar sobre aquilo que já sei.
Qual é o maior pânico de um apresentador?
É deixar de poder contar com entrevistados no dia anterior ao programa. E é ter convidados que não se entreguem. Acho que é o pior. Ter convidados que respondam de forma monossilábica. Porque uma pessoa fica a pensar ‘como é que eu vou levar isto?’. Faz falta haver formação de convidados para talk shows. Há pessoas que se sentem muito constrangidas. Isso também tem a ver com a personalidade de cada um. Cada programa tem o seu registo e aquilo só corre bem se uma pessoa se entregar e estiver à vontade.
Que marca quer deixar no 5 Para a Meia-Noite?
Tenho a intenção de ser mais provocador, com mais imprevistos ao longo do programa. Mas também fui percebendo que não pode ser tão à vontade como gostaria que fosse. Gostaria de deixar os entrevistados bem-dispostos, mas também de conseguir criar alguma linha de desconforto, no sentido de os levar a interrogar-se ‘será que ele vai perguntar isto ou aquilo?’. Gosto de provocar sem malícia. Não gosto de coisas muito previsíveis.
A que humoristas faz uma vénia?
Em Portugal, além de Herman José, que foi a minha referência quando adolescente e jovem adulto, e que eu ainda hoje admiro bastante, há, entre os mais recentes, dois que eu gosto muito. E são dois estilos bem diferentes: Ricardo Araújo Pereira e Bruno Nogueira. O Ricardo pela inteligência, pela forma tão perspicaz como consegue fazer o seu humor. E o Bruno pela criatividade dos seus projectos.
Quais são os seus limites para o humor?
Eu normalmente sou aquele a quem têm de pôr travões. Às vezes por inconsciência e outras por achar que faz parte. Não vejo malícia. Acho que nunca houve nada a que eu colocasse limites. Se for feito de uma forma inteligente, acho que se pode brincar com tudo.
Que olhar tem sobre a televisão pública portuguesa?
Acho que a RTP, já desde os tempos do Nuno Artur Silva, começou a enriquecer a oferta e a apostar em mais formatos portugueses, principalmente na ficção. Desde há uns anos, apostam as fichas todas na ficção. Gosto e acho que faz todo o sentido. Por outro lado, o entretenimento pode estar mais estagnado. Já teve projectos mais originais e arriscados do que tem hoje em dia.
Que projectos profissionais gostaria de abraçar?
Tenho algumas ideias sobre projectos que misturam humor com o facto de se andar por outras culturas. Há coisas muito cómicas quando existe esse contraste cultural.