Tem o formato de uma foca. Chama- se Mizi e, à primeira vista, parece um simples peluche, de pêlo branco. Falamos de um robot terapêutico, que reage a estímulos tácteis e à voz, que a Misericórdia de Pombal está a utilizar como instrumento de trabalho na intervenção junto de utentes com demências e perturbações cognitivas e no tratamento da ansiedade.
A Mizi chegou há alguns meses à estrutura residencial para idosos da instituição e já conquistou utentes e técnicos. Ana Rita Santos, fisioterapeuta, confessa que, quando estava a trabalhar na candidatura ao Prémio BPI Seniores, que financiou o projecto, “não estava muito convencida” das mais-valias do robot. No entanto, quando a Mizi chegou e os resultados começaram a aparecer, a técnica ficou “rendida”.
Entre os “inúmeros” benefícios deste tipo de equipamento, a fisioterapeuta destaca a “interacção social e emocional” estimulada pelo robot. Para ilustrar o que diz, Ana Rita Santos refere o caso de uma utente, que sofre de demência ainda numa fase inicial. “Quando está mais triste ou agitada, vamos buscar a Mizi. Fica logo com outra disposição. Mais alegre e calma. Até canta para ela”, conta a técnica, [LER_MAIS] revelando ainda que, através da foca robot, conseguiram colocar um outra utente, que era cabeleira, a exercitar as mãos. De que forma? “Damos-lhe uma escova e pomos-lhe a Mizi no colo e ela penteia-lhe o pelo. Neste caso, trabalhamos também a parte física”, concretiza.
O robot estimula também as relações interpessoais, através da interacção que se gera nas sessões de grupo, que decorrem duas vezes por semana, na sala de convívio da instituição. Nesses encontros, a Mizi vai passando de colo em colo. “Falam com ela, cantam-lhe e fazem-lhe mimos. Com a dinâmica que se cria, os utentes acabam também por interagir uns com os outros”, revela a fisioterapeuta.
No caso de utentes com demência “mais pronunciada”, a interacção com o robot acontece num espaço com “maior privacidade”. A Mizi é também chamada a intervir “sempre que seja visível a necessidade de acalmar algum utente mais agitado”, estratégia que tem apresentado “muitos resultados”.
Além da intervenção terapêutica, o robot tem uma componente de “entretenimento”, proporcionando “muitos momentos de alegria e bem- -estar” aos idosos, como aquele que o JORNAL DE LEIRIA presenciou entre Emília Couto e Emília Carrilho e a Mizi. Quando a fisioterapeuta lhes entrega a foca, os rostos das duas iluminam-se.
Aos mimos das idosas, que a afagam e a beijam, a Mizi responde, abanando a cauda e abrindo e fechando os olhos, em sinal de satisfação. “Só não fala”, constatam, não se inibindo de verbalizar “as saudades” que já tinham dela. Há utentes que “até lhe cantam” e outros que querem levá-la para o quarto, confidencia Ana Rita Santos.
“A Mizi devolve o sorriso a uma pessoa deprimida, estimula a capacidade de interacção de uma pessoa tímida ou com bloqueios afectivos e ajuda a controlar comportamentos agressivos”, resumem as técnicas envolvidas no projecto, que, além de Ana Rita Santos, conta com colaboração de Célia Oliveira (psicóloga), Bruna Antunes (terapeuta da fala) e Carina Silva (animadora).
O robot terapêutico, de tecnologia japonesa, foi financiado pela edição de 2018 do Prémio BPI Seniores, no âmbito da candidatura MultiProject apresentado pela Misericórdia de Pombal. A ideia partiu do provedor, Joaquim Guardado, que defende que as instituições devem “inovar” e procurar respostas “diferenciadoras”, para ir ao encontro das necessidades dos utentes.
“Os problemas de demência são, cada vez mais, uma realidade. Procuramos que essas pessoas possam ser estimuladas a vários níveis. A tecnologia pode ser um bom aliado. Neste caso, o robot têm-se revelado um bom investimento, com resultados muito positivos”, assegura o dirigente.