O presidente da Associação Nacional da Indústria de Moldes (Cefamol), João Faustino, disse hoje à agência Lusa que o sector dos moldes quer diversificar a produção para não ficar refém da indústria automóvel, o seu principal cliente.
“É isso que andamos a tentar, não só agora, porque isto já não é de agora, é desde há muitos anos, só que o sector automóvel tem crescido exponencialmente e é o que nos tem puxado para o desenvolvimento das tecnologias, para o aumento da capacidade, para empregarmos mais pessoas”, afirmou João Faustino à margem da sessão de abertura da Moldplas – Salão de máquinas, equipamentos, matérias-primas e tecnologia para moldes e plásticos, na Exposalão, na Batalha (Leiria).
O sector dos moldes, que tem como principal cliente a indústria automóvel (72% da produção), emprega 11 mil pessoas.
As exportações representam 85% da produção (em 2020 o valor foi de 566 milhões de euros, mantendo uma tendência decrescente desde 2018, ano em que bateu o recorde de vendas ao exterior), de acordo com informação da Cefamol.
João Faustino disse que o decréscimo de encomendas no sector dos moldes é “motivado muito” pela indústria automóvel que “desde 2018 tem reduzido, de forma significativa, o lançamento de novos veículos para o mercado”, desencadeando, automaticamente, “uma redução de moldes e de todo o conjunto de peças que são necessárias para construir o automóvel”.
O dirigente apontou, igualmente, “a indecisão que existe neste momento relativamente à mobilidade eléctrica, ‘diesel’ ou gasolina”, o que contribui para que muitos construtores automóveis protelem lançamentos, garantindo que o sector tem procurado diversificar a atividade, exemplificando com as incursões na área médica ou nos eletrodomésticos.
O secretário-geral da Cefamol, Manuel Oliveira, adiantou, por seu turno, que “os últimos dois anos mostraram uma tendência decrescente do mercado, “após um período de crescimento acentuado”, entre 2010 e 2018, “no qual as exportações duplicaram e foram efectuados elevados investimentos em tecnologia e competências avançadas”, tendo sido “criados mais de 3.000 postos de trabalho líquidos”, o que permitiu “às empresas alargar as suas cadeias de valor, estabelecer parcerias e conquistar novos mercados”.
“O impacto da pandemia acentuou esta situação, sendo profundo, quer no sector, quer nos mercados que serve, agravando constrangimentos que já vinham a ser sentidos, seja ao nível da instabilidade dos mercados e suas políticas comerciais, seja pela indefinição nos novos conceitos de mobilidade, seja pela concorrência aguerrida que enfrenta ou pelas quebras significativas de preços de venda ou exigências contratuais, cada vez mais fortes, apresentadas pelos seus clientes”, explicou.
Manuel Oliveira esclareceu que, em paralelo, se assiste a um “aumento considerável dos custos de produção”, por via das matérias-primas, energia ou transportes.
O secretário-geral da Cefamol disse ainda que “os principais desafios que o sector enfrenta em 2022 prendem-se com a angariação de novas encomendas”.
“Em simultâneo, será fundamental garantir instrumentos que reforcem a capacidade de financiamento e capitalização das empresas neste período de lenta retoma, área em que o apoio do Governo e instituições oficiais, em que se integra o Banco de Fomento, serão fundamentais”, considerou, assegurado que “as empresas do sector estão muito focadas na eficiência produtiva e na otimização dos seus recursos, áreas fundamentais para manter a sua competitividade internacional”.
Manuel Oliveira acrescentou que “outro dos seus principais desafios será ao nível da gestão de pessoas e das suas competências, não só garantindo a permanência do conhecimento e experiência no sector, mas também a atração de talento e de jovens qualificados para a indústria”.