Em Mogadouro de Cima, Vale de Avessada, Louriceiras, Castelo, no concelho de Ansião, e na Lapa, localidade partilhada entre este município e Pombal, os habitantes fecham-se dentro de casa, devido ao mau cheiro.
“Não querem vir à rua e, mesmo dentro de casa, dormem com máscaras”, diz Suzete Rodrigues, uma das moradoras, que assume o papel de porta-voz oficiosa dos habitantes. Se nada for feito, promete, poderão até “fazer uma manifestação nos Paços do Concelho de Ansião”.
Aos maus cheiros provocados pela deposição de dejectos, provenientes de aviários da zona que incomodavam os moradores, diz, juntou-se recentemente a BioSmart, empresa do Grupo Nov – antigo Grupo Lena -, que faz tratamento de lamas de ETAR.
“Supostamente, nessa empresa está tudo legal, mas como pode estar tudo legal se há camiões a despejar resíduos a meio da noite? Quem vive na zona sente o cheiro a entrar pela casa adentro…”
Grupo Nov diz que Biosmart não é origem de odor
Contactado pelo JORNAL DE LEIRIA, o Grupo NOV Ambiente & Energia assegura que a Biosmart não é a origem do odor.
“Essa unidade está dotada de uma tecnologia moderna em circuito completamente fechado. O processo de compostagem é feito em túneis herméticos com passagens de ar forçado para filtros específicos, especificamente para controlo dos odores evitando a sua dissipação. As unidades da Biosmart, cumprem a legislação em vigor e são constantemente auditadas pelas entidades oficiais, garante da qualidade e cumprimento das melhores normas ambientais.”
Carlos Conceição, CEO do Grupo NOV, refere que têm sido feitos convites a várias pessoas e entidades a visitarem as instalações para poderem comprovar “que os odores fortes de que se queixam têm outras origens” e que estão “ao dispor das entidades, da indústria e da população, para dar nota transparente de todas as suas práticas ambientais”.
Artur Ramalho, anterior presidente da Junta de Santiago da Guarda, assegura que já antes de a Biosmart se instalar na freguesia, havia mau cheiro. A situação, diz, verifica-se há 20 anos e resultará da compostagem de estrume de aviários. “Há um barracão que deve ter 300 metros de comprimento, sem portões, onde é tudo depositado e revolvido”.
Suzete Rodrigues também conhece esta origem mais antiga do mau cheiro e dá-lhe um nome: José Maria Mendes e Mendes Lda., cuja unidade de tratamento está localizada na freguesia.
O problema, aponta, não é só o odor. “As pessoas têm dificuldade em respirar. É como se os pulmões queimassem”, descreve. Recorda que, em 2013, foi feito um abaixo-assinado à autarquia que respondeu nada ter assinalado na empresa.
O JORNAL DE LEIRIA tentou contactar a unidade de produção avícola, mas não teve sucesso. Contactou também a autarquia para obter uma reacção do actual vereador do Ambiente de Ansião, mas, até ao fecho da edição, não recebeu resposta. A moradora refere que a unidade de compostagem sofreria de falta de licenciamento e de ausência de Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
Entretanto, foi elaborado um EIA, mas que terá sido “chumbado”. “Creio que a DRAPC já tem o documento há quatro anos e os prazos passaram.” Segundo a moradora, foram feitos relatórios pela CCDRC, Agência Portuguesa do Ambiente e ICNF.
A última vistoria, a terceira, de que Suzete teve conhecimento aconteceu a 1 de Abril de 2021. Até ao momento, diz, tudo continua igual.
Teme agora que o processo seja discretamente arquivado. “Como podem arquivar uma questão de saúde pública, sobre a qual as pessoas continuam, semanalmente, a queixar-se?” , indaga.