É por ‘amor à camisola’ que Rute Martins, Cidália Silva e Cláudia Coelho assumem a presidência de diversos clubes desportivos. O desporto está-lhes no sangue e, apesar de ser um meio desafiante, falam com gosto das horas e fins-de-semana intermináveis dedicados ao clube.
Cidália Silva é a primeira mulher presidente do Grupo Desportivo da Ilha (GD Ilha), no concelho de Pombal. A terminar o seu primeiro mandato, a dirigente está desde pequena ligada ao clube da terra. “Como costumo dizer, eu já nasci no clube”, brinca. O pai, Noé Maria Duarte, foi presidente do GD Ilha durante dez anos, e Cidália Silva jogou, em tenra idade, na equipa de futebol feminino.
Diz-se que ‘um bom filho, à casa torna’, e no caso desta ilhense, foi o que aconteceu. A vida de Cidália Silva levou-a para longe do concelho de Pombal e, agora, confessa que já nem sabe como é que se tornou presidente do GD Ilha.
“Também não há muitas pessoas que se queiram dedicar ao associativismo, cada vez é mais difícil”, comenta. Perceber o porquê não é difícil. Todo o tempo livre que Cidália Silva tem disponível, tal como vários outros dirigentes associativos, é dedicado a este clube.
“Nunca pensei que fosse tão difícil. Ou que modificasse tanto a minha vida. Na verdade, o clube já é gigante e absorve-me imenso tempo. Mas faz-se com gosto. Aliás, só assim é que é possível”, assegura. Em cinco anos, os esforços de Cidália Silva e da equipa directiva, maioritariamente composta por mulheres, estão à vista. De cerca de 200 atletas, são agora cerca de 370 as pessoas que integram as equipas do CD Ilha em diversas modalidades, com cada vez mais mulheres.
As equipas de futebol feminino, futebol de praia masculino e feminino, e a formação foram criadas pela actual direcção. Além das novas modalidades, Cidália Silva refere que foi criado um campo de futebol de praia e melhoradas as instalações do clube. Os atletas do GD Ilha podem usufruir ainda de um ginásio e estão num clube certificado com três estrelas.
“Licenciámos tudo o que havia ainda para licenciar a nível de instalações”, conta a responsável. No entanto, há um objectivo que Cidália Silva ainda quer cumprir. “Neste momento, o que me falta é a obra da nossa bancada. O projecto está na câmara e esperamos que ao longo deste ano [a bancada] seja erguida, ou que comece a sua obra”, afirma a dirigente.
Cidália Silva garante que nunca sentiu qualquer tipo de discriminação por assumir as rédeas do GD Ilha. Lembra-se, contudo, quando tomou posse, de ouvir comentários que questionavam ‘porquê uma mulher?’, numa altura em que havia poucas mulheres com o mesmo cargo.
Cidália Silva tem a certeza de que o número de mulheres no desporto está a crescer, tanto em cargos directivos, como dentro das quatro linhas. Esta ilhense sabe que ainda há muito trabalho pela igualdade de género a fazer para que mulheres e homens sejam considerados iguais no meio profissional.
“Igual não está, nem sei se algum dia estará. Este sector do futebol é muito dominado por homens, quer queiramos ou não”.
Sobre uma recandidatura, Cidália Silva revelou que pretende continuar.
Horas livres de Cláudia Coelho são dedicadas ao Recreio Pedroguense
No norte do distrito de Leiria está Cláudia Coelho, presidente da direcção do Recreio Pedroguense. Num meio mais pequeno, a dirigir um clube com 80 anos, esta dirigente diz que é igualmente “trbalhoso” dinamizar uma equipa de futebol regional, com menos fundos, mas com muito para dar.
Este clube do concelho de Pedrógão Grande tem equipas de iniciados, juvenis e seniores de futebol masculino, e debate-se para ter mais atletas, já que está sediado num local “um bocado desertificado”.
Cláudia Coelho também sente que trabalha “por amor à camisola” e, tal como no GD Ilha, existem outras mulheres no corpo directivo. “Não há dia nenhum que não tenhamos qualquer coisa relacionada com o clube”, afirma.
A presidente reconhece que este papel “tira muito tempo” da sua vida pessoal, mas há cinco anos que integra a direcção do Recreio Pedroguense e a satisfação em desenvolver este trabalho ultrapassa em larga escala os infortúnios.
Sobre a presença de mulheres no desporto, Cláudia Coelho vê que são cada vez mais.
CPR Pocariça procura novo corpo directivo
No Centro Popular e Recreativo da Pocariça (CPR Pocariça), do concelho de Leiria, Rute Martins já é presidente desde 2020. Com uma ligação familiar ao clube, que remonta à sua fundação, esta dirigente brinca e lembra que a primeira medida tomada foi “fechar o clube”, devido à pandemia.
Com 34 anos, Rute Martins salienta que já são mais de 20 dentro do clube, já que começou a jogar, ainda menor, na equipa de futsal feminino sénior, numa altura em que não havia formação.
A atleta já conhecia bem os cantos à casa, mas só quando se tornou presidente é que percebeu a dimensão do CPR Pocariça. “Não é só desporto. Temos instalações próprias e essa é a maior dificuldade, mantê-las”, referiu.
Ao longo dos últimos quatro anos, Rute Martins lutou pela certificação do clube – já conseguida – e aguarda pelo licenciamento do espaço, algo que ainda vai demorar.
Está claro para esta responsável que ainda há muito trabalho a fazer na igualdade de género. Apesar de não ter sentido qualquer tipo de preconceito, também pela sua “ligação familiar” ao clube, Rute Martins reconhece que há pessoas com “a mentalidade aberta, e outras não”.
“Temos sempre dificuldade em arranjar meninas para a nossa formação. Continua a ser difícil, mas a mentalidade já é um bocadinho diferente”, concluiu.
Tal como as restantes presidentes, Rute Martins sente que a vida de associativismo, apesar de gratificante, é esgotante. Por isso, procura novos candidatos que queiram preencher os lugares dos corpos sociais. “Neste momento, não me quero recandidatar. Foi o acumular de muitas funções – atleta, directora desportiva, presidente – agora preciso de desligar”, assume.
Apesar de ainda estarem em minoria, as mulheres que dirigem clubes desportivos quebram qualquer ideia pré-concebida e mostram, através do trabalho, que há espaço para todos no desporto.