“Agora palminhas, agora procurar um par.” As indicações da professora Cátia são seguidas ao som de música animada, ao ritmo próprio de cada aluno. Extrovertido e falador, Luís, de 6 anos, está sempre ansioso por tocar pratos e ferrinhos. Já a tímida Luciana, da mesma idade, gosta de se deitar e de relaxar com os amigos.
A cada semana que passa há um novo movimento adquirido e há um novo gesto de solidariedade semeado entre crianças com deficiência e meninos e meninas sem qualquer dificuldade. A expressão musical e corporal têm sido o veículo para a integração no projecto Sons que Educam, da Banda de Alcobaça (BA).
Ao longos dos anos, a iniciativa tem[LER_MAIS] contribuído ainda para a reabilitação e para a melhoria da qualidade de vida de cerca de uma centena de alunos, do pré-escolar ao ensino secundário, nota Dalila Vicente, directora de projectos para a comunidade da BA.
A professora Cátia Bessa, que tem coordenado o projecto nos últimos três anos, explica que a iniciativa envolve alunos do Agrupamento de Escolas de Cister que, estando integrados nas respectivas turmas, contam com o apoio adicional de unidades direcionadas para crianças com espectro do autismo, doenças raras, limitações motoras, entre outras.
Envolve ainda alunos com dificuldades na aprendizagem e nas competências sociais. Todas as semanas, atendendo à faixa etária e aos horários disponíveis, são realizadas sessões de 45 minutos, que podem envolver maracas, xilofones, latas ou colheres, bem como lenços ou pára-quedas, e onde, além das crianças com deficiência, se juntam outros alunos.
“Queremos antes de mais que se divirtam, mas também que assim possam melhorar a sua agilidade, a sua flexibilidade, que sejam capazes de aceitar o outro, de lhe pedir apoio. E que gostem de partilhar estes momentos com os colegas”, salienta a professora.
E os resultados saltam à vista, com crianças de tenra idade a disponibilizar-se para ajudar os colegas nas actividades propostas, o que extravasa o contexto das sessões e se nota no recreio e na sala de aula.
“Cria-se uma empatia que ultrapassa os limites da escola”, relata Cátia Bessa, especialista em reabilitação psico-motora.
Nesta fase, de pandemia, a utilização de instrumentos musicais tem sido mais comedida. E também tem sido evitada a junção de alunos de várias turmas, pelo que estas sessões conjuntas têm-se cingido temporariamente ao pré-escolar. Mas o objectivo, assim haja condições sanitárias, é voltar a estender a iniciativa a todos os ciclos de ensino, realça a coordenadora.
O culminar de cada ano tem sido também um momento de grande partilha, explica a professora. Na Semana Especialíssima, assinalada em Novembro, são realizados espectáculos que dão a conhecer à comunidade os progressos obtidos. E este ano o evento trouxe novidades, com alunos e pais desafiados a concretizar os sonhos de outras crianças.
Conhecer a neve, ir ao cinema ou privar com um artista têm sido alguns dos desejos nos quais as famílias têm vindo a trabalhar ao longo do ano.
Este foi um dos 188 projectos sociais de âmbito local apoiados em 2021 pelo BPI e pela Fundação “la Caixa”, com financiamento total de 1,2 milhões de euros.