Sou de um sítio em que as histórias de sermões “roubados” entre padres abundavam e eram contadas como momentos de pura fraternidade e picardia.
Sou de um tempo em que pelas terras de Leiria, e ainda éramos muitos, actuava uma equipa de padres jovens e menos jovens que faziam questão de se cuidar e actuar em conjunto, apesar dos ritmos e idades muito diversas.
Sou de um sítio em que a escassez de recursos, entre outras dinâmicas, está a levar a reformulações do modo de actuar pastoral. Inquieta a espécie de calada da noite em que a reorganização da Diocese em unidades pastorais foi anunciada.
Sem chama, músculo, energia e, ainda, com pormenores por afinar. Como se, o tudo ou nada, o agora ou nunca, fosse uma inevitabilidade e ainda não um novo paradigma.
Que as comunidades não são dos padres a quem estão entregues, apesar de assistirmos a modelos que permitem e patrocinam aqueles que não conseguem ver mais do que a sua situação actual para exercer o ministério, é facto que até La Palice se envergonharia.
E mal, pois podem estar a privar outras comunidades do seu bem fazer, ou pior, revelam uma instalação e apropriação, quando a Igreja é, na sua natureza, dos que ousam. Poesia para os seus ouvidos. Apostaria que a expectativa divina será outra.
Se a desculpa for “não contem comigo”, acredito que já não podemos contar com eles. Estão mortos por dentro e, por fora, já nem disfarçam muito. Vítimas do seu empenho ou desempenho, da sua ilusão ou desilusão, da sua dedicação ou desacreditar. A vida tem muitas horas, dias, anos…
2000 anos depois, aos responsáveis para que a sarça arda, podemos exigir mais. Venham as mudanças, transformações, revoluções. Sem estas, podemos condenar, em consciência, a humanidade mas ficará, para sempre, a dúvida do “e se tivéssemos feito/tentado diferente não se teria salvo!?”
Como segredo, que talvez esta reorganização tenha no seu ADN, a amizade das pessoas que, formando equipas, poderá ser matriz e bitola de um cuidar sempre atento e audaz. Criador de comunhão.