Em 26 jogos disputados esta temporada na 1.ª Divisão de juniores (sub-19), em futebol, a União de Leiria perdeu 25 e empatou uma única vez. A despromoção ao segundo escalão nacional estava matematicamente garantida, mas as competições desportivas no País foram abaladas pela pandemia.
As entidades tomaram medidas e a União de Leiria já não irá descer de divisão. E outros, que poderiam subir, como os juvenis do Marinhense ou os iniciados do GRAP, já não o poderão fazer.
Vamos por partes. A 10 de Março, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) optou pela suspensão de todas as provas nacionais dos escalões de formação de futebol e futsal até 28 de Março.
A revisão desta medida estava, pois, marcada para a passada sexta-feira e a decisão foi extrema: “dar por concluídas as competições nacionais de todos os escalões de formação de futebol e futsal, masculinas e femininas, não resultando das mesmas qualquer efeito desportivo imediato”.
Principais beneficiados
- Após 14 temporadas no principal escalão do futebol português, a equipa de juniores da União de Leiria estava matematicamente despromovida à 2.ª Divisão, sem ganhar um único jogo durante 2019/20. Vai continuar na 1.ª Divisão.
- Com apenas 10 jornadas por disputar, o Caldas SC estava 14 pontos abaixo da linha de água na 2.ª Divisão nacional de juniores. A despromoção aos distritais parecia inevitável, mas já não vai acontecer.
- O GD Peniche e o Caldas SC tinham ficado em lugares de descida aos distritais no Campeonato Nacional de juvenis, despromoções essas que agora não ocorrerão.
- O CD Vilarense tinha ficado em lugar de descida aos distritais no Campeonato Nacional de iniciados, despromoção essa que não irá ocorrer.
- Os juvenis do Avelarense e os iniciados do Santo Amaro não venceram qualquer partida na Divisão de Honra da AF Leiria do respectivo escalão. Ainda assim vão garantir a manutenção nos patamares mais altos do futebol distrital.
- No futsal, tanto os juniores como os juvenis do CCRD Burinhosa ficaram em lugares de descida aos distritais nos respectivos campeonatos nacionais. Manter-se-ão entre os melhores.
Principais prejudicados
- O AC Marinhense disputava a zona Sul da fase de subida à 1ª Divisão nacional de juniores. Com quatro jogos disputados, estava a três pontos dos lugares de subida.
- Os juniores do GD Peniche lideravam a Divisão de Honra distrital com nove pontos de vantagem e 10 jogos por disputar. A subida à 2.ª Divisão nacional não ocorrerá.
- Os juvenis do AC Marinhense tinham 10 pontos de vantagem quando faltavam oito rondas para terminar a Divisão de Honra distrital. Já não irá subir ao Campeonato Nacional.
- Os iniciados do GRAP ainda não tinham perdido e levavam nove pontos de avanço com nove jogos por disputar na Divisão de Honra distrital. A subida ao Campeonato Nacional fica sem efeito.
- Os iniciados da Academia CCMI venceram os 15 jogos que disputaram. A subida ao escalão principal do futebol distrital não poderá concretizar-se.
- No futsal, o Casal Velho venceu os campeonatos distritais de juniores e juvenis, mas não poderá disputar a Taça Nacional.
O que significa isto? Que “não serão atribuídos títulos nas referidas competições nem aplicado o regime de subidas e descidas”. Diz, também, que a resolução “é acompanhada pelas 22 associações distritais e regionais, que vão igualmente dar sem efeito as suas competições destinadas aos escalões de formação de futebol e futsal”.
Para grandes males, grandes remédios. Entendeu a FPF que “a prioridade de pais, avós, filhos e netos deve ser a de se dedicarem à protecção uns dos outros e às exigências escolares, em nome do direito à protecção da saúde.”
Clubes lamentam decisão unilateral
Um grupo de 37 clubes endereçou uma missiva ao presidente da Associação de Futebol de Leiria em que expressa “preocupação real” com a “decisão unilateral”, “sem ouvir os clubes, os seus receios, as suas angústias e as suas necessidades”. Solicita ainda uma reunião “tão urgente quanto possível”, para preparar a próxima época de forma a “garantir a subsistência”, o que “só será possível com diálogo e soluções abrangentes a nível financeiro”.
“Pedimos desculpa aos clubes por não terem sido ouvidos, como sempre foram nestes 20 anos, mas tínhamos um timing a cumprir. Acatámos a decisão da FPF, encaixámos nela e consideramos que a é a mais justa”, respondeu Manuel Nunes, presidente da AFL. “Estamos a procurar formas de apoiar os clubes para ultrapassarem esta fase difícil”, garante o responsável, que antecipa desafios. “Como nos vamos organizar? Como vão os clubes poder treinar e jogar neste contexto? Como será com os balneários?”
O que significa isto? Que “não serão atribuídos títulos nas referidas competições nem aplicado o regime de subidas e descidas”. Diz, também, que a resolução “é acompanhada pelas 22 associações distritais e regionais, que vão igualmente dar sem efeito as suas competições destinadas aos escalões de formação de futebol e futsal”.
Para grandes males, grandes remédios. Entendeu a FPF que “a prioridade de pais, avós, filhos e netos deve ser a de se dedicarem à protecção uns dos outros e às exigências escolares, em nome do direito à protecção da saúde.”
No entanto, o veredicto teve, como seria de esperar, consequências no trabalho de vários clubes. Para uns positivas, para outros negativas.
O presidente da União de Leiria admite benefícios para a equipa de juniores, que evita a descida à 2.ª Divisão, mas não encontra outra alternativa à deliberação da FPF de terminar os campeonatos de formação.
“Sou 100% contra. Já tinham decorrido mais de dois-terços das provas e deveria ficar como estava. Quem ocupava lugares de subida deveria subir”
“Era a única possível, sensata e responsável. Não é justa, mas também não vejo outra que fosse consensual. A pior coisa que pode acontecer é andarmos a planificar na indefinição e esta decisão de terminar imediatamente ajuda-nos a preparar orçamentos para vários cenários, face à situação desconhecida”, explica Nuno Cardoso.
Também o Caldas SC tinha as equipas de juniores e juvenis condenadas à despromoção aos distritais, o que já não irá acontecer. Contudo, para o presidente da Direcção, “muito mais importante do que campeonatos é salvaguardar a saúde dos jovens”.
“As pessoas têm de tomar consciência do que aí vem. Em vez de estarem preocupados com quem sobe e quem desce, deviam estar preocupados com o presente e o dia de amanhã, que não será fácil”, adianta Jorge Reis.
“A pior coisa que pode acontecer é andarmos a planificar na indefinição e esta decisão ajuda-nos a preparar orçamentos para vários cenários”
“E como seria com os balneários, por exemplo? Quem garante que vão ser locais seguros com este vírus? E também ninguém sabe se não haverá uma segunda pandemia”
Distritais
A posição federativa foi seguida pela Associação de Futebol de Leiria (AFL), que optou por “cancelar, com efeitos imediatos, todos os campeonatos distritais nos escalões de formação ainda não concluídos, sem haver lugar a subidas e descidas, sem designação de campeões”.
Uma decisão que, segundo Manuel da Ponte, presidente do GRAP, apanhou de surpresa os clubes. “Não fomos ouvidos. Penso que sem uma reunião não deveriam ter avançado. Estamos a decidir se fazemos uma exposição.”
Curiosamente, a congénere do Porto abriu espaço a alargamentos para não prejudicar as equipas que iriam subir de divisão, o que, segundo Jorge Reis, seria impraticável no distrito, pois todas as alterações a modelos competitivos “teriam de ser aprovadas até 31 de Janeiro” último.
“Nenhuma deliberação a tomar seria boa” para todos os agentes desportivos e para “o desejável e saudável desenrolar das competições”, todavia, a AFL entende ter tomado a solução “mais adequada”, mesmo tendo consciência de que “não irá agradar a todos”.
“E na próxima época? Como nos vamos organizar, com que equipas e em que condições? Como vão os clubes poder treinar e jogar ? Como será com os balneários?”
Entende que “principal objectivo” dos campeonatos de formação que organiza “será sempre a promoção da prática desportiva e a formação cívica dos nossos jovens, num contexto desportivo e de valorização do trabalho em equipa”.
Convicta de que a pandemia “não deverá dar tréguas nos próximos três meses, ou seja, antes do final da época desportiva”, defende que o próximo tempo deverá ser “reservado para a eventual conclusão intensiva do ano lectivo de todos jovens” e para todos se centrarem “no essencial, a preservação da saúde e bem-estar de todos”.
Tal como o líder do clube dos Pousos, também o presidente do Atlético Clube Marinhense concorda com o facto de “parar já” os campeonatos, sem se admitir um eventual regresso após a pandemia, mas “discorda” com o facto de os campeonatos congelarem para a próxima temporada, sem subidas nem descidas, os escalões de formação.
Ainda para mais, 2020/21 seria a primeira temporada em que o emblema fundado em 1923 teria todos os escalões nos campeonatos nacionais.
“Sou 100% contra. Já tinham decorrido mais de dois-terços das provas e deveria ficar como estava. Quem ocupava lugares de subida deveria subir e quem ocupava os últimos lugares devia descer”, sublinha Mário Fernandes que lamenta a decisão “sobretudo pelas crianças”. “Esta geração de juvenis fez um ano muito bom, tinham um grande avanço e agora estão tristes.”