Com fotografias, relatos, sons, ferramentas, materiais e objectos partilhados pelos habitantes das Fontes, a organização do Nascentes está a preparar um Museu do Comum que será apresentado pela primeira vez na próxima edição do festival, de 28 de Junho a 2 de Julho.
A exposição, a instalar num barracão cedido por uma moradora da aldeia, vai mostrar o trabalho de auscultação e co-criação actualmente em desenvolvimento numa parceria entre a população e artistas de artes visuais.
No processo, “muito emocional”, segundo Gui Garrido, entram, por exemplo, peças de mobiliário rural ou imagens de festas religiosas. É a tentativa de albergar “uma história” que “potencia o olhar para a mesma coisa de outra forma”. Além de “ressignificar os objectos”, o Museu do Comum convida as pessoas a perceberem “o que é que as suas memórias trazem”.
“A história da cada um” pertence a uma “história maior”, comenta o director artístico do Nascentes. A exposição apoia-se numa “construção conjunta” e propõe-se representar, de modo vivo, as trocas afectivas e as aprendizagens que contribuem para a experiência do indivíduo na comunidade. Uma visão contemporânea sobre o património e um diálogo que pretende apontar para novos futuros colectivos.
Programa de cinco dias
A organização do Nascentes divulgou hoje o alinhamento completo da próxima edição do festival, que decorre nas Fontes, concelho de Leiria, junto ao rio Lis, e, de acordo com Gui Garrido, quer voltar a proporcionar “momentos de encontro” e de “reconhecimento das artes”.
Música ao vivo, petiscos, um piquenique e actividades infanto-juvenis contribuem para um programa de cinco dias em que se destacam o concerto para olhos vendados e o passeio sonoro com orientação do paisagista, arquivista e documentarista Luís Antero.
Além da já divulgada participação dos Ligados às Máquinas, orquestra de samples em cadeira de rodas da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, num espectáculo inédito que celebra 10 anos do projecto a partir de sons cedidos pela Orquestra e Coro da Gulbenkian e por artistas como Salvador Sobral ou Rita Redshoes, estão previstas mais duas residências de criação: Carincur e João Pedro Fonseca juntam-se ao Coro das Fontes numa iniciativa que se foca na voz e na performance para, com recurso a ferramentas tecnológicas, orquestrar movimentos cénicos com os intérpretes, todos eles habitantes das Fontes; já o baterista Ricardo Martins e o multi-instrumentista e compositor Dada Garbeck vão trabalhar com o Trio de Percussão, composto pelos músicos leirienses Francisco Vieira (marimba), António Casal (vibrafone) e João Maneta (bateria, residente na aldeia).
Na lista de concertos, com nomes nacionais e internacionais, aos já anunciados Cabrita, Kriol, Lavoisier e ZA! & TransMegaCobla juntam-se Ayamonte Cidade Rodrigo, Dolu, Gala Drop, Jhon Douglas, Joana Guerra, Lalalar, Mais Alto! e Vurro.
Acesso livre
As actividades são todas gratuitas, à excepção da Jantarada D’Aldeia, que implica inscrição paga.
O festival preparado pela Omnichord com o envolvimento da população das Fontes ambiciona relacionar artistas e espaços, rasgo e tradição para promover a reflexão sobre a Natureza e questionar o modo como nos relacionamos com o outro, a arte e a cultura, a paisagem e, também, como nos transformamos através dessas relações.
“O Nascentes é muito mais do que só o programa”, conclui Gui Garrido. “É muito mais do que cinco dias” e expande-se ao longo do ano.