As estatísticas não mentem e são bastante desoladoras. Muitas famílias terão um Natal manchado a vermelho, mas de vermelho sangue. Será um Natal dramático para muitas famílias e infelizmente estes números mantêm-se ano após ano.
O relatório apresentado pela UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, realizado pelo Observatório das Mulheres Assassinadas e apresentado em novembro deste ano, reporta 20 femicídios dum total de 25 mulheres assassinadas dos quais “16 foram cometidos em relações de intimidade, três em contexto familiar não íntimo e um em contexto de violência sexual dos femicídios em relações de intimidade.”
Na época do Natal e da passagem de ano, as situações de homicídio e os pedidos de ajuda por violência doméstica aumentam de acordo com Daniel Cotrim da APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. A principal razão será a da pressão para que haja proximidade, apelando a uma reaproximação familiar para reatar a relação e manter a família intacta. Qual família questiono eu? Mais do que laços de sangue, o que carateriza uma família são os laços afetivos e de segurança.
Num ano em que assistimos ao caso Gisèle Pellicot em França e aos pormenores macabros que rodeiam o mesmo e à descoberta de um grupo Whatsapp onde cerca de 70 mil homens de nacionalidade portuguesa partilham fotos íntimas não consentidas de mulheres e se apela à violência e degradação do sexo feminino, isto tem de nos deixar a pensar. Para não falar do que está a acontecer por exemplo no Afeganistão onde a voz das mulheres não pode sequer ser ouvida em público!
Segundo dados de 2021 da Organização Mundial de Saúde, uma em cada 3 mulheres experienciou violência fisica ou sexual por outras pessoas em algum momento da sua vida. E poderia citar estatísticas igualmente chocantes sobre minorias. Que sociedade é esta em que vivemos? Já Mahatma Gandhi dizia na sua célebre frase: “O grau de evolução de uma sociedade mede-se pela forma como trata os seus animais, crianças e idosos.” Ou seja, pela forma como os mais vulneráveis são protegidos.
E no meio disto tudo ainda se discute se deveríamos tirar conteúdos de educação sexual do programa da disciplina de Cidadania nas escolas. Deveríamos era acrescentar conteúdo sobre relações humanas saudáveis para que rapazes e raparigas soubessem o que é suposto acontecer na relação com o outro, consigo próprio e com a sua comunidade. Porque infelizmente nisto algumas famílias estão a falhar.