O frio que se fez sentir na última noite de segunda-feira não impediu que um grupo de 21 pessoas se juntasse ao treino semanal de walking football, a mais recente modalidade promovida pelo Grupo Desportivo da Ilha.
O treino começa com o aquecimento e alguns exercícios com bola, que permitem ‘desmistificar’ este objecto e melhorar as capacidades técnicas. Afinal, a maioria dos atletas, todos com idade superior a 50 anos, nunca jogou futebol na vida.
Na época passada, o Grupo Desportivo da Ilha organizou um jogo de walking football, mas foi esta temporada que se deu o arranque oficial da equipa, já inscrita na Associação de Futebol de Leiria e apta a participar em competições.
É rapidamente perceptível a boa disposição que une este grupo. Durante todo o treino ouvem-se risos, brincadeiras e picardias entre atletas, que se juntam pelas 19 horas, à segunda-feira, com um objectivo em comum: conviver e ter uma vida activa através do exercício físico.
A presidente do Grupo Desportivo da Ilha, Cidália Silva, é uma das atletas deste grupo. Olhou para o walking football como uma oportunidade de colocar adultos e idosos a mexer. “Precisamos de nos mexer. Não é só isto que vai, por si só, dar-nos saúde, mas ajuda. Tira-nos de casa e convivemos. Somos alegres, bem-dispostos e isto faz-nos bem”, comenta a dirigente, que também leva a mãe para os treinos, orientados pelo filho, Alexandre Silva.
Convicta de que “o clube tem de interagir com a comunidade” onde se insere, apontou para a faixa etária que ainda não estava representada no GD Ilha e, agora, já reúne uma equipa com 29 atletas. Ainda só realizaram três treinos, mas já estão cientes de que é necessário aumentar as horas dedicadas a esta modalidade e, até, formar duas equipas. Aliás, o grupo “está sempre a aumentar”, afirma Cidália Silva.
As regras do walking football são simples, mas, quando colocadas em prática, tornam-se desafiantes para aqueles que, mesmo a jogar ‘a feijões’, querem a sua equipa a ganhar. Esta variante do futebol é disputada num campo com as dimensões do futsal, entre duas equipas de cinco jogadores cada, onde não existe guarda-redes. Não é permitido correr e os jogadores estão impossibilitados de dar mais do que três toques na bola, que não pode subir mais que a altura da cintura, cerca de um metro. Os golos só são válidos quando obtidos dentro da área de penálti e o contacto físico é proibido.
O mais difícil é não correr
O mais difícil, assume Cidália Silva, é mesmo não correr. A vontade de chegar à bola fala mais alto e, sem querer, os atletas correm um pouco, acção imediatamente penalizada pelo treinador, que tenta incutir neste grupo rebelde as regras do jogo.
“Portamo-nos um bocadinho mal”, brinca Célia Lima, de 52 anos, referindo-se à boa-disposição sentida em campo que, por vezes, leva à falta de atenção. Reflexo de um grupo que quer, acima de tudo, conviver com os parceiros.
A professora, que nunca jogou futebol, garante que esta actividade é “terapêutica” e já estabeleceu um objectivo pessoal: tornar-se jogadora federada. O marido também vai aos treinos e ambos constatam a “alegria contagiante” dentro das quatro linhas.
Mesmo com 78 anos, Joaquim Novais é um dos elementos da equipa que mais se mexe. Aproveita a sua passada longa para chegar primeiro a todas as bolas e tenta executar com primazia cada exercício. É difícil acreditar quando diz que nunca jogou futebol, mas já está rendido ao desporto. “Gosto de jogar”, exclama.
Alexandre Silva, treinador desta equipa, está ciente de que muitas pessoas vão para estes treinos pelo “convívio”. O que não tem problema nenhum, porque “mais do que saúde física, é a saúde mental que está associada”.
O também director técnico do GD Ilha explica que em cada treino é preciso ter um cuidado redobrado com as quedas e as articulações e, após três treinos, já nota que “a bola não é inimiga e passou a ser amiga deste grupo”.
“No outro dia, diziam que estão aqui a conviver com pessoas com quem iam sair há uns anos”, adianta o treinador, satisfeito com o progresso que já vê em cada atleta.
Distrito tem duas equipas
Além do Grupo Desportivo da Ilha, o Sport União Alfeizerense também já tem inscrita uma equipa de walking football, desde a época passada. E a ARP Futsal Nazaré já está a dar os primeiros passos para reunir mais uma equipa.
Para Manuel Nunes, presidente da Associação de Futebol de Leiria, esta modalidade é essencial para “combater o sedentarismo e as doenças associadas”. A instituição que rege o futebol e o futsal no distrito tem visitado diversas instituições locais com o intuito de divulgar a modalidade, no entanto, o crescimento do walking football ainda está “um pouco comedido e envergonhado”. Mesmo assim, o dirigente está confiante de que mais clubes e instituições vão apostar na modalidade.