Já existia "um cafezinho", quando o pai de Luísa Nunes acrescentou "uma salinha" para os petiscos, com fado a acompanhar. Há 43 anos. As enguias fritas, o chouriço, o coelho guisado. Com o fundador retirado das lides, ela é hoje o rosto e alma do negócio onde trabalha desde os 13 anos de idade. Sem nunca tirar férias. Mesmo na folga semanal, à quarta-feira, é ali que toma o pequeno-almoço.
Com a fama, muita fama, vieram "mais salinhas". Actualmente são cinco, todas com nomes inspirados na festa brava: a sala do toureiro, do forcado, do cavalo, do cavaleiro e do campino. E dois nomes para designar o mesmo restaurante: Solar dos Amigos e Ilha do Paraíso. Coisas que a razão desconhece, mas o coração explica.
Fados já não há, a não ser em ocasiões especiais, mas, ao fim-de-semana, chegam a ser 200 clientes em simultâneo. Uma autêntica romaria na aldeia de Guisado, arredores de Caldas da Rainha.
Entre os pratos mais procurados, estão a tiborna de bacalhau. "Que é o bacalhau assado com a batatinha a murro, depois leva migas, chícharos, broa esfregada com alho e azeite, legumes", explica Luísa Nunes. E o bacalhau à campino. "Até já fomos à televisão com essa receita".
Os grelhados na brasa são a especialidade da casa: carré de borrego, cascos à Ribatejo, picanha, porco preto. E o bife à forcado, que dá para quatro a cinco pessoas. Meio metro de carne. Tudo isto num estabelecimento inventado para quem gosta de comer muito, e bem, à maneira tradicional.
"Não é nada disso do gourmet, aqui não se passa nada disso", esclarece a proprietária. Com uma única concessão: o menu vegetariano. Ao sábado há cozido à portuguesa, domingo é dia de experimentar o cabrito assado no forno.
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Na porta de entrada, o puxador em forma de ferradura é a senha para um mundo à parte. As telhas pintadas com figuras equestres, as toalhas coloridas, as ferramentas agrícolas, os cartazes das corridas de touros, a máquina de costura, a balança de mercearia do antigamente, as cebolas penduradas no tecto, entre muitos outros apontamentos que preservam o Portugal típico numa decoração cheia de personalidade.
A mensagem insinua-se até no doce da casa, o campino: leite condensado, gema de ovos, canela, bolacha e o símbolo LH gravado, que é o ferro de Luís Henriques (o marido de Luísa Nunes) na criação de cavalos da família.
Cerca de 30% dos clientes são estrangeiros, a maioria italianos e franceses. Uns turistas, outros radicados na região. "Tenho aqui ingleses clientes já de há 30 anos". Nas noites de segunda e terça-feira, costumam ocupar a sala do cavaleiro, pertinho da lareira.
No Solar dos Amigos, o preço médio da refeição ronda os 17 a 20 euros por pessoa, com tudo incluído. A diária fica por 7,50 euros.
O restaurante encerra à quarta-feira e não aceita cartão de débito.