Pisou grandes palcos do País e contracenou com artistas de renome nacional, sem nunca deixar de promover a cultura na terra onde nasceu. Ao actor e encenador Norberto Barroca, a Marinha Grande ficou a dever um vasto conjunto de peças, grande parte das quais representações históricas, que homenagearam o trabalho dos vidreiros e da povoação que veio a crescer em torno desse ofício.
Agora, a cidade retribui e prevê criar a Casa-Museu Norberto Barroca, para divulgar a vida e a obra do ilustre profissional do teatro.
Na semana passada, a câmara deliberou a compra da habitação do encenador, com o objectivo de ali edificar essa estrutura. O imóvel será requalificado e dinamizado com um programa museológico, adianta o município.
“Teve uma vida cheia”, resume Isabel Ferreira, professora e actriz, que com ele teve a oportunidade de trabalhar. “Tinha formação em Arquitectura, em História e Teatro e por isso tinha a particularidade de reunir grande conhecimento dos acontecimentos e da estética”, realça a professora. E, apesar de ter estudado “obras magníficas” e de ter contracenado com os maiores vultos do teatro português, como Ruy de Carvalho, Eunice Muñoz, João Perry ou Ana Zanatti, manteve-se sempre “humilde” e disponível para[LER_MAIS] promover a cultura na sua cidade, onde trabalhou várias vezes graciosamente, salienta Isabel Ferreira.
A actriz já seguia o seu trabalho, mas foi com a peça A Soprar se vai ao longe (uma encenação de Norberto Barroca para o Grupo de Teatro do Sport Operário Marinhense, que foi à cena em 2019 e se estreou 25 anos antes), que Isabel Ferreira percebeu melhor a dimensão do seu talento. Com Telmo Ferraz, Mário Garcia, Maria de Fátima Bonifácio, Isabel Ferreira foi de resto uma das personalidades da Marinha Grande que sensibilizou a autarquia, liderada por Aurélio Ferreira, para avançar com o projecto da Casa-Museu, na sequência até de doações anteriores, que o próprio encenador já tinha feito à câmara, conta a actriz.
Quem também aplaude a criação da futura Casa- Museu é Helena Rocha, outra actriz da Marinha Grande, que passou a acompanhar mais o seu trabalho desde que chegou à cidade, vinda de Angola. “Nunca se esqueceu das suas raízes” e não perdia a oportunidade de levar à sua terra grandes actores, “como Joel Branco ou Sinde Filipe”, a quem atribuía papéis nas peças que levava à cena na Marinha Grande, realça.
Uma das filhas de Helena Rocha, quando criança, integrou o elenco de cerca de 50 pessoas que representaram na peça A soprar se vai ao longe, congratula- se a actriz.
Norberto José Guerra Barroca nasceu na Marinha Grande, em 1937, vindo a falecer em Lisboa, a 2 de Janeiro de 2020. A sua formação académica iniciou- se na Faculdade de Belas Artes na Universidade de Lisboa, no curso de Arquitectura, sendo depois complementada com uma licenciatura em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e um mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Apesar de todo este percurso académico, Norberto Barroca notabilizou-se, sobretudo, pela múltipla actividade teatral enquanto actor, declamador, encenador, cenógrafo, figurinista, professor e autor.
Um dos últimos trabalhos do encenador aconteceu em 2019. No âmbito da celebração dos 250 anos da chegada de Guilherme Stephens à Marinha Grande, a câmara promoveu uma recriação histórica da chegada do empresário britânico à localidade. Esta peça, escrita e realizada por Norberto Barroca, foi apresentada dia 20 de Outubro no Jardim e Palácio Stephens, juntando um mar de espectadores no centro da cidade.
Em 2016, aquando da inauguração da Casa da Cultura – Teatro Stephens, na Marinha Grande, o encenador foi também responsável pela peça Palco de Memórias, que juntou em palco e nos bastidores 121 pessoas, entre actores, músicos, técnicos e outros elementos.
O espectáculo recordava a construção do teatro, mandado edificar pelos irmãos Stephens, para cultivar o espírito dos trabalhadores da fábrica de vidro.
Ao JORNAL DE LEIRIA, em 2016, o encenador falava sobre o afecto que tinha pelo Teatro Stephens. Tinha 7 anos quando, em 1945, acompanhou a tia nos ensaios da revista Ó Patego! Olha o balão! Este momento, notava, viria a impulsionar o gosto pela arte que ao longo da vida se transformou numa paixão.