É um assunto que está a dividir opiniões, sensibilidades e até opções políticas: o da imigração. Que coisa estranha, num país de emigrantes!
Mas é um tema que tem que ser falado, debatido e integrado na discussão pública sem receio de ser inconveniente. Tem que ser enfrentado e clarificado sem rodeios, não permitindo que seja polarizado entre uma direita “nacionalista” e uma esquerda “solidária”, entre os que se sentem “invadidos” e os que se abrem à riqueza do “acolhimento multicultural”, entre os que têm medo da “perda de identidade do nosso povo” e os que pregam a “solidariedade universal”, entre os que “protegem” e os que “exploram”.
O professor António Barreto, que eu muito admiro, numa conferência em Pombal deu-me o mote para esta crónica, quando falou num debate necessário entre dois conceitos e duas opções de acolhimento: “integração” e “multiculturalismo”. Um conceito não é o oposto do outro mas há claramente uma opção que é necessário consolidar: a da integração.
O multiculturalismo, sem integração adequada, cria o risco de originar dentro de um país comunidades ou bairros rácicos com base no país de origem, nas etnias ou religião: a dos marroquinos ou por extensão a dos muçulmanos, a dos africanos, a dos indianos, a dos nepaleses…
E o problema dessas comunidades, digo eu agora, que tendem a agregar-se em bairros, a isolar-se em comunidades com os seus usos e costumes, é que começam a ser estranhas às comunidades autóctones, a não serem compreendidas e, eventualmente, receadas e hostilizadas.
Ora, o medo gera a necessidade de controlo, que justifica a autoridade e depois o autoritarismo, abrindo caminho a todos os críticos dessa democracia “permissiva e incapaz” que permite uma “sociedade insegura”.
A integração, de outro modo, é o modelo que não potencia guetos rácicos e religiosos, que prevê um processo gradual de inclusão dos imigrantes, ao longo de vários anos, porque permite e até promove a sua vinda de acordo com as necessidades reais da economia e da demografia, que assegura que há trabalho suficiente para não favorecer a indigência, que inclui com controlo, que impede a exploração dos imigrantes e a instalação de mafias e redes de exploração, que evita quem tem cadastro, que dispensa quem não se esforça em viver numa comunidade partilhada, que promove condições dignas de habitação e apoio na saúde e que, dando direitos, exige o cumprimento de deveres.
Uma Democracia forte e com futuro não escamoteia problemas. Fala deles abertamente, analisa-os e procura soluções de forte consenso.
E uma verdadeira Democracia é, por natureza, solidária e integradora.