A imagem tradicional do peregrino de Fátima, andrajoso, a caminhar em cortejo atrás de um “carro de apoio”, oriundo de um dos quatro cantos de Portugal, para assistir a uma missa e regressar imediatamente a casa, está a mudar. E a alteração não começou agora.
Alexandre Marto, CEO do Fátima Hotels Group calcula que, actualmente, cerca de 70% dos visitantes, nacionais e estrangeiros, têm poder de compra e contam com um elevado grau de exigência na procura de oferta hoteleira.
O empresário sublinha que Fátima já recuperou, quase na totalidade, da crise provocada pela pandemia de Covid-19 e que este 13 de Outubro, em termos de ocupação, tem já taxa de ocupação próxima dos 100%.
Este ano, segundo o Santuário de Fátima, participam nas celebrações 95 grupos oriundos de mais de duas dezenas de países. Itália, Polónia, Portugal, Espanha, França, e Estados Unidos têm o maior número de inscrições.
A mesma fonte adianta que, até Setembro, comparativamente a 2021, o número duplicou, registando-se 2.133 grupos. Além disso, o santuário mariano reconhece haver “muitos mais peregrinos que não se inscrevem”.
“Os visitantes actuais vêm por 15 dias ou mais e aproveitam para conhecer a região, o País e até outros destinos na Europa”, refere Alexandre Marto. A cidade de Fátima, nas últimas três décadas, respondeu às solicitações desses turistas, aliciados pelo tema da espiritualidade, por mais qualidade e oferta.
Actualmente, 85% das unidades hoteleiras da cidade, fruto de um esforço de investimento, ostentam três e quatro estrelas. O alojamento local e as de duas estrelas perfazem o restante.
E até as rotas de peregrinação evoluíram. O CEO do Fátima Hotels Group explica que, quem procura o turismo religioso, tem formação académica superior, poder de compra e muito interesse pela espiritualidade.
Além disso, uma larga maioria chega a Fátima com o objectivo de aproveitar a cultura, gastronomia e património da região circundante.
Há ainda uma outra tendência que se está a tornar comum.
“Um terço dos grupos que visitam o santuário, seguem, depois, para Santiago de Compostela. Começam a visita ao nosso País em Lisboa, onde se deslocam à Torre de Belém e aos Jerónimos, passam por Sintra e seguem para Fátima, destinando alguns dias para conhecer os mosteiros da Alcobaça e Batalha, o convento de Cristo e a Nazaré. Depois rumam para a Universidade de Coimbra e Biblioteca Joanina, visitam o Porto e as suas caves e seguem para Santiago de Compostela.”
A título de curiosidade, em 2019, entraram em Fátima 100 mil cidadãos da Coreia do Sul, fazendo deste um dos mercados de origem mais importantes para o turismo religioso português.
Vinda de Papa e Jornada da Juventude prometem enchente
“Este mês, acontece a última grande peregrinação aniversária do ano. Veremos agora o que acontecerá na época baixa”, diz a presidente da Aciso – Associação Empresarial de Ourém, sublinhando que, apesar de tudo, a expectativa para o 13 de Outubro é que será uma “grande peregrinação”.
A expectativa de Maria da Purificação Reis , é que 2023 será “um bom ano para Fátima”.
A Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, e a anunciada deslocação do Papa Francisco ao santuário levam a que a responsável acredite que possa acontecer um contágio que contrarie os efeitos da crise que, devido à inflação e aumento das taxas de juro, está a levar ao aumento dos preços de serviços e produtos, perda do poder de compra e consequente impacto negativo em deslocações a destinos turísticos no estrangeiro, como Fátima.
Tradicionalmente, Maio é um mês muito forte nas peregrinações a pé e este ano não foi excepção.
Entre Julho e Agosto, num cenário de alívio das restrições provocadas pela pandemia da Covid-19, a presença e regresso dos peregrinos a Fátima acentuou-se, impulsionando a recuperação para números semelhantes aos verificados em 2019.
Apesar disso, ressalva, este ano, os valores dos grupos de turistas estrangeiros ainda não voltaram ao normal.
No Verão, a recuperação dos mercados norte-americano e brasileiro era evidente, porém, os de longa distância, como o asiático, ainda estão aquém do registado antes da Covid-19.
Recorde-se que, há três anos, o Santuário de Fátima apostava bastante na captação de grupos de visitantes desses territórios.
Maria da Purificação Reis acredita que ainda há muito receio de viagens em grupo, devido a factores como a idade mais avançada destes visitantes que, por outro lado, têm mais tempo, liberdade para viajar e desfrutar de vindas a Fátima, em viagens organizadas por agências.
“Desde o início da pandemia que percebemos que Fátima seria um dos primeiros destinos a sofrer e um dos que, mais tarde, iria recuperar”, resume.