A Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis está a colocar em funcionamento a primeira fase do novo sistema de rega com água em pressão que, no actual cenário de falta de água, irá permitir poupar os recursos hídricos, além de potenciar a produção, através de uma gestão racional da produção agrícola.
Nesta primeira campanha, o sistema instalado no Bloco Um ou Bloco do Boco, na zona da freguesia da Vieira de Leiria, numa área que pertence ao concelho da Marinha Grande, permite fazer chegar a água a 288 hectares de terrenos, o equivalente a cerca de 300 campos de futebol.
“E já temos já outro bloco [Salgadas] quase a entrar em obra, com 361 hectares e um investimento de mais de oito milhões de euros. Os trabalhos deverão começar a breve trecho, assim que forem ultrapassadas algumas questões processuais”, afirma Henrique Damásio.
O administrador-delegado da associação de regantes adianta que o investimento apenas no Bloco do Boco, foi de cerca de seis milhões de euros.
O perímetro hidroagrícola do Vale do Lis conta com mais de 2000 hectares.
Novas culturas ou melhoria da produção torna-se possível com a utilização de técnicas como a gota-a-gota, a aspersão ou a micro- -aspersão. Um dos grandes investimentos foi na melhoria do funcionamento da estação de bombagem que, tal como um coração, impele a água através das “artérias” instaladas nesta secção do Vale do Lis.
“Isto é um sistema em pressão, ou seja, quando os nossos associados abrirem a torneira, a água vai sair com, mais ou menos a mesma pressão que temos nas torneiras em nossa casa”, explica o administrador-delegado da associação.
O número
6
trabalhos para a criação da
infra-estrutura que serve o Bloco
do Boco
À medida que a água for sendo utilizada, automaticamente, a estação de bombagem vai compensando as perdas de pressão e à medida que outros regantes acedam ao sistema e comecem também a regar.
[LER_MAIS]“Depois, é contabilizado o consumo ao metro cúbico e nós, na sala de controlo, na sede da associação, em Monte Real, conseguimos ver, em tempo real, o que se está a passar. Se a válvula está fechada ou aberta e qual o caudal utilizado.”
Nos terrenos, para facilitar a operação e a ligação de mais do que um utilizador, os hidrantes instalados podem ter mais do que uma saída. “Podem ter duas saídas para dois blocos de regra ou até quatro, para o mesmo número de blocos, mas a maioria tem duas”, adianta Henrique Damásio.
As condutas estão enterradas, evitando a evaporação de grandes quantidades de líquido, como acontece nos canais abertos ao ar livre e, por serem em polietileno de alta densidade, ou PEAD, como as de abastecimento público nas nossas casas são mais resistentes a deslocações do solo ou, em caso extremo, a sismos.
A filosofia do novo sistema assenta na sustentabilidade, na sensibilização para as boas práticas agrícolas, na melhoria na produção e na resiliência, num cenário onde o principal recurso começa a ser cada vez mais escasso, devido às alterações dos ciclos naturais.
“A visão da utilização destes sistemas é que as pessoas utilizem na actividade agrícola apenas a água necessária para optimizarem o rendimento das culturas e não mais do que essa água. Isto é, aquilo que se pretende é que as pessoas utilizem apenas a água estritamente necessária.”
No modelo tradicional de rega, através de canais e adutores, muitas vezes as culturas são regadas com excesso de água. “Isso não traz benefício para ninguém, uma vez que os nutrientes que a planta tem, no solo, junto a ela, são arrastados para a camada freática, mais abaixo. Portanto, além de se estar a contaminar a água do lençol freático, ainda vamos estar a roubar os nutrientes de que a planta necessita para se desenvolver”, descreve o responsável.
Henrique Damásio descreve como cada regante, tendo em sua posse um interruptor electrónico portátil [button] que lhe permite activar e desactivar a conduta, faz uso do dispositivo, na sua actividade quotidiana.
Em simultâneo, um sistema de monitorização na sede da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis, em Monte Real, em regime de telemetria, permite, por rádio, abrir e fechar condutas e medir a quantidade de água gasta por cada proprietário ou arrendatário.
“Nas zonas que ainda não têm acesso ao sistema pressurizado, os agricultores que já testemunharam o seu funcionamento, estão a usar dispositivos para fornecer água em pressão ainda antes de avançarmos com o Bloco das Salgadas, porque perceberam a utilidade e a poupança de esforço e de recursos”, resume o responsável.