O número de pessoas que se confessam sem religião mais do que duplicou no distrito em apenas uma década. Este é o dado que mais sobressaí das estatísticas do Censos 2021 relativas à religião, que o JORNAL DE LEIRIA consultou a propósito da Jornada Mundial da Juventude e da visita do Papa a Fátima.
De acordo com o último recenseamento, 12% das pessoas com 15 ou mais anos residentes no distrito assumiam não ter religião, quando, em 2011, eram 5,2%. Em termos absolutos, o número de pessoas que não professam qualquer credo passou de 21130, em 2011, para 47313, em 2021.
Olhando para os dados concelhios, o último recenseamento populacional revela que Caldas da Rainha é o concelho da região com maior percentagem (18%) de residentes sem religião, seguindo-se Marinha Grande (17,3) e Óbidos (16%). No pólo oposto está Ourém, onde apenas 5,9% da população abrangida assume não professar nenhum credo.
Ansião e Figueiró dos Vinhos estão entre os concelhos da região onde há, em termos percentuais, menos pessoas sem religião. A nível nacional, o último Censos indica que a percentagem de residentes que não professam qualquer credo ronda os 14%, ou seja, dois pontos acima do valor do distrito.
Os resultados do Censos 2021 revelam ainda que, tal como no País, também no distrito o número de católicos diminuiu na década em análise, passando de 335260 para 324154. Em termos percentuais, em 2021, 82,7% das pessoas com mais de 15 anos residentes no distrito diziam-se católicos, ligeiramente acima do valor nacional (80,2%). Dez anos antes, a percentagem era de 83,2%, no distrito, e 81%, no País.
Por concelhos, Ansião é na região aquele que tem a percentagem mais elevada de católicos (91,5%), seguindo- se Figueiró dos Vinhos (90,2%) e Ourém (90%). Ainda no que respeita às igrejas cristãs, o Censos de 2021 apurou que 7555 residentes no distrito se assumem como protestantes/evangélicos (2805 em 2021) e 3938 se identificam como pertencentes à Igreja Ortodoxa (2805 em 2011).
As outras confissões cristãs apresentam um número total de 3623 pessoas. As Testemunhas de Jeová, que aparecem pela primeira vez isoladas no recenseamento, são 2392. Entre as religiões não cristãs, os dados do distrito indicam que, em 2021, existiam 699 muçulmanos, 678 hindus e 534 budistas.
Comparando com 2011, regista-se, no distrito e no País, um aumento dos ortodoxos e, sobretudo, dos evangélicos, devido essencialmente à imigração, nomeadamente, do “fluxo da população brasileira”, salienta Alfredo Teixeira, investigador da Universidade Católica.
O antropólogo nota, contudo, que apesar do aumento das minorias religiosas – “alimentado pelos fluxos migratórios e também pelo facto de terem hoje melhores condições para a vivência religiosa, nomeadamente em termos de espaços de culto” -, a diversidade religiosa tem ainda uma distribuição “muito irregular” no País, estando “mais concentrada na Área Metropolitana de Lisboa e no Algarve”.
“Este é um dos aspectos em que a sociedade portuguesa contrasta com a europeia”, nota Alfredo Teixeira, que aponta outra diferença, que se prende com a “maior resistência” da população católica em Portugal.
“A redução do número de católicos não é tão acentuada como seria de esperar e como aconteceu noutros países”, salienta o investigador, para quem o “fenómeno” mais significativo dos dados da religião do último Censos é o aumento do número de pessoas que se dizem sem religião.
“É muito expressivo e afecta todo o território. Há, inclusive, pessoas que se afirmam crentes, mas que não se identificam com nenhuma religião. Existe uma certa dissociação entre o crer e o pertencer.”