O sector dos moldes e plásticos está cada vez mais apostado em abordar novos ramos da indústria, reduzindo o peso das encomendas vindas do mundo automóvel. Em que novas áreas está o vosso grupo a trabalhar?
A indústria automóvel foi muito importante para o desenvolvimento do sector, pelos níveis de exigência e rigor que nos obrigaram a uma evolução constante durante décadas. Esta indústria continua a ser muito importante, uma vez que, embora já não permita as margens do passado, continua a trazer um volume fundamental para alimentar a capacidade instalada da nossa indústria. A verdade é que este tipo de molde é cada vez mais uma commodity e as empresas acabam por procurar outras indústrias de maior valor acrescentado onde possam tirar partido do nível tecnológico e do know-how desenvolvido ao longo do tempo. Claro que a entrada nesses nichos levanta outros desafios que nem todas as empresas estão ainda preparadas para enfrentar. É o caso da indústria médica, na qual estamos a trabalhar há alguns anos e onde temos crescido imenso, à custa da dedicação das nossas equipas e também de muito investimento. Esta indústria procura parceiros que, além das competências técnicas, demonstrem uma estabilidade e saúde financeiras à prova de bala, o que infelizmente é cada vez mais difícil de encontrar no nosso sector. Temos também apostado fortemente na indústria aeroespacial e de defesa, para a qual somos certificados pela norma EN9100. Fomos, inclusivamente, reconhecidos recentemente por uma importante publicação do sector, como uma das melhores empresas da Europa na maquinação de alta precisão para peças de grandes dimensões.
A indústria biomédica é a continuação e evolução do trabalho com décadas? E como foi que surgiram as apostas na aeronáutica e defesa?
São o resultado do posicionamento absolutamente diferenciador do Grupo Vangest, que aponta sempre para os níveis mais elevados da exigência e investe permanentemente nos meios tecnológicos e humanos necessários para o conseguir. É um facto que os tempos que correm, com a tragédia das guerras que assolam o mundo, trazem à tona as necessidades de investimento dos países na defesa, mas o nosso posicionamento nesta indústria não é circunstancial, é algo para o qual trabalhamos há alguns anos. Apesar de procurar sectores alternativos, a Vangest continua a trabalhar para o ramo dos transportes… O Grupo Vangest tem participado activamente no desenvolvimento de uma solução inovadora de mobilidade, através da sua parceria com a TUGA Innovations. Foi através da Grandesign, a nossa empresa de design e prototipagem, que foi feita a concepção e desenvolvimento das duas primeiras fases dos protótipos deste veículo, e estamos a trabalhar nas próximas fases sobre as quais ainda não posso partilhar pormenores, mas que terão grande impacto no futuro próximo. O Grupo Vangest apresenta-se no mercado com um conjunto de serviços complementares, que integram os softwares de engenharia, o design de produto, a prototipagem, o fabrico de moldes, a produção em série e os meios de controlo, que o tornam um parceiro ideal para o desenvolvimento de projectos deste tipo.
Com o eclodir da guerra na Ucrânia e com a dificuldade em conseguir componentes vindos da China, falou-se na relocalização de unidades que tinham sido deslocadas para a Ásia. Há reflexos desta relocalização?
Há muitas intenções de relocalização para a Europa, mas poucos resultados práticos. A Ásia, nomeadamente a China, apresenta uma agressividade no mercado contra a qual não podemos, nem queremos, competir. A nossa luta não pode ser pelo preço, não queremos nem podemos vender ao preço a que vendem os nossos concorrentes chineses, uma vez que não jogamos com as mesmas regras, por exemplo, ao nível da protecção social e ambiental. Oferecemos aos nossos clientes não só a qualidade, mas também um nível de serviço diferenciado. O cliente que compra exclusivamente por preço, pode até acenar com a intenção de relocalização das encomendas na Europa, mas, normalmente, não quer abdicar dos preços baixos da China, e nós não queremos competir com isso.
Facturação de 43 milhões
Nuno Cipriano está à frente da Vangest desde Janeiro de 2021, grupo que actua, maioritariamente, nos mercados de Espanha, França, Benelux, Suíça, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
No ano passado, a Vangest alcançou um volume de negócios de 43 milhões de euros, que nunca tinha sido alcançado, mesmo antes da pandemia.
“As empresas que mais contribuíram para o crescimento foram a Moliporex, com 24 milhões, e a EHTP, com dez .”
O crescimento foi de cerca de 25% em relação a 2021 e para 2023 a estimativa é, de pelo menos mais 15% em relação ao ano passado. O grupo da Marinha Grande tem 320 colaboradores.
“Continuamos a investir e a ser das poucas empresas da região que não têm dívida”, diz o CEO.