Começa a 2 de Abril, no Teatro Mi#guel Franco, em Leiria, a 13ª edição do ciclo de cinema documental Hádoc, que até 25 de Junho oferece sete longas metragens e outras tantas curtas, em sessões a acontecer sempre à terça-feira e sempre com início às 21:30 horas. Motim no Paraíso, Quatro Filhas, A Poderosa Afrin: No Tempo das Cheias, Kokomo City, Bobi Wine: O Presidente do Povo, Além da Utopia e A Memória Eterna são os filmes em cartaz.
Que realidade levam ao Teatro Miguel Franco os documentários do 13.º Hádoc?
Em todas as edições procuramos tocar em diversas temáticas, sendo que a própria “indústria” naturalmente lança mais filmes assentes nos temas da actualidade. Ainda assim, invariavelmente, procuramos iniciar o ciclo com um documentário ligado à música, incluir as questões ambientais e de sustentabilidade por um lado, não descurando os acontecimentos geopolíticos. Procuramos ainda incluir filmes que apontem para perspectivas interessantes ou diferenciadas sobre questões sociais, que normalmente resultam em sessões que deixam uma forte impressão junto do público.
Os vossos espectadores saem renovados de esperança, ou, pelo contrário, mais pessimistas?
Depende dos filmes. Procuramos equilíbrio nos filmes que escolhemos porque não podemos estar só a passar filmes que deixem as pessoas deprimidas. As curtas, a maior parte delas, são num registo mais leve. Mas, dos filmes que vamos passar, não é que os temas não sejam pesados, alguns, e sérios, mas não há nenhum que termine sem um toquezinho de esperança. Os próprios realizadores têm esse cuidado. Não todos, e depende do filme, mas a maior parte.
Acreditam que através do cinema estão a contribuir para uma sociedade mais democrática e livre?
Não acredito que vá mudar o mundo, já me deixei dessas coisas, mas acredito que a mudança vem de cada um. Se as pessoas tiverem acesso a informação – porque às vezes o excesso de informação não é informação de qualidade – e se quando é passada através de um filme documental estiverem motivadas para perceber que aquilo é um documentário, é não ficção, que aquilo não é a realidade, pode ter muitas imagens reais mas não é a realidade, obriga-as a pensar. E este é o caminho. Se as pessoas pensarem por elas próprias, e forem críticas, obviamente não aceitam tudo o que lhes é entregue, inclusive, a mensagem do documentário. Podem sair de lá e questionar-se. Quando passamos filmes portugueses, tentamos trazer os realizadores e ter um espaço de debate. Especialmente entre os associados da ecO, que é quem faz o Hádoc, no fim do filme vamos beber um copo. E é inevitável, as pessoas sentam-se e acabam por falar, têm necessidade de falar e de opinar.
Ainda não foi desta que acertaram no vencedor do Óscar, mas não faltam prémios e nomeações na programação que seleccionaram.
O que ganhou o Óscar foi 20 Dias em Mariupol. É dos poucos que não vem ao Hádoc [entre os nomeados ao Óscar na categoria de documentário]. Foi-nos oferecido. E optámos por não trazer nenhum que fosse tocar nessa temática da Ucrânia, não porque não achamos que o tema seja interessante, ou não, mas [porque] já é um tema tão mediatizado. Os três nomeados aos Óscares que vamos passar foram escolhidos antes da nomeação aos Óscares. [Bobi Wine: O Presidente do Povo, A Memória Eterna e Quatro Filhas]. Não trocava qualquer um pelo vencedor dos Óscares.
É importante a oportunidade de ver estes filmes em sala?
Sim, muitos estão fora do circuito, alguns hoje já passam directamente para as plataformas de streaming. Se calhar é geracional. Malta dos anos 70 e 80 tem esta falsa sensação de que é muito importante ir ao cinema? Para mim não é falsa, para mim faz sentido. Acho que é muito mais interessante ver os filmes no cinema e estar com outras pessoas na sala. É importante ver na sala, no escuro, com som alto, [em vez de] estar a ver num telefone. Tal como vamos continuar a fazer uma coisa: o Hádoc é pago. Nós podíamos ponderar, em determinada circunstância, gerir isto de forma a ser gratuito. Há muitos eventos gratuitos. Felizmente, no ano passado, retomámos o número de espectadores na sala, em média, entre 50 a 60, para nós é um número simpático. É pago porque nós queremos que seja pago, porque achamos que é importante as pessoas valorizarem, as pessoas perceberem que a cultura não é toda de borla, que há alguém que está a fazer um trabalho de selecção destes filmes. Mesmo que nos custe público, queremos que as pessoas percebam que [o Hádoc] tem valor acrescentado e económico.