“Ó amigo, você gosta de vinho?” Esta é uma forma improvável de se interpelar um piloto de parapente que acaba de aterrar, mas não é nada a que Nuno Virgílio não esteja habituado a viver no nosso Portugal profundo.
O campeão nacional da modalidade é natural do Juncal, Porto de Mós, e podia escrever um livro só com as aventuras que vive quando decide colocar as asas e voar.
Lá por cima, a “sensação de evasão” e a “vista privilegiada do Mundo” por uma "perspectiva de pássaro" já são suficientemente compensadoras, mas as peripécias depois dos voos de treino são, por norma, impagáveis.
Literalmente, tudo é passível de acontecer, desde regressar à boleia num tractor ou ser a atracção principal numa qualquer romaria. “Costumo dizer que a aventura começa verdadeiramente quando aterro”, enfatiza Nuno Virgílio.
Numa aldeia de Trás-os-Montes, por exemplo, um senhor viu o piloto a aterrar e confundiu parapente com pára-quedismo. "Não vi nenhum avião", argumentou. Nuno Virgílio explicou-lhe a modalidade, que voam a partir de montanhas…
"Deu-me boleia na caixa de carga da pick-up e levou- -me para a festa da aldeia. Apresentou- me aos amigos e pagou rodadas a toda a gente. Depois, fomos para casa dele: 'ó Maria, põe batatas a cozer, traz txitxa, vinho e cerveja…'”
Mas vamos ao início da história. A paixão de Nuno Virgílio pelo parapente começou no início dos anos 90 do século passado, quando começou a acompanhar o pai que por essa altura se iniciava na modalidade. Com os irmãos conseguiu comprar uma asa em segunda mão que partilhavam e usavam à vez.
“Era ainda adolescente e sempre pratiquei desporto, mas este agarrou-me completamente e transformou-se em muito mais que apenas um hobby. É um estilo de vida, diria.” A explicação é simples. Existe algo que pague partilhar o voo com um pássaro numa corrente térmica ou sentir o cheiro das nuvens?
Bicampeão nacional, conta com inúmeros pódios nacionais e internacionais, e representa Portugal nos Campeonatos da Europa e do Mundo desde 2004. Nuno Virgílio é, também, o recordista ibérico de distância livre, com um voo de 315 quilómetros.
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