O assunto tarda em resolver-se. A crise financeira nas SAD do Centro Desportivo de Fátima e da União de Leiria continua a desesperar futebolistas, equipa técnica e funcionários, que há vários meses esperam pela liquidação dos ordenados em atraso.
Sem receberem desde Outubro, os jogadores do Fátima abandonaram o campo no último jogo em lágrimas. Apesar de ocuparem o segundo lugar da série, classificação que dá acesso ao playoff de subida à 2.ª Liga, muitos já optaram por rumar a outras paragens e os que ficaram acreditam que um milagre ainda é possível.
Segundo um dos agentes dos atletas, a situação está “caótica” e sem resolução à vista. “Têm enganado os jogadores. A cozinheira que fazia a comida para os atletas já saiu por não lhe pagarem e a senhora que agora está lá já chegou a comprar comida do seu próprio bolso para que os jogadores possam comer alguma coisa”, revela.
Este empresário denuncia ainda que há atletas que têm sido obrigados a pedir dinheiro emprestado a familiares e amigos, porque têm família e há compromissos que têm de ser cumpridos. “O Campeonato de Portugal de futebol já tem jogadores com contratos profissionais e existem famílias que dependem dos ordenados dos atletas.”
O que se está a passar em Fátima é “surreal”, acrescenta ainda o agente desportivo, ao afirmar que já houve situações em que atletas saem do Norte de manhã cedo para o treino de segunda-feira e “quando chegam a Fátima são informados de que o treinador não vai estar, porque é professor e tem de dar aulas”.
“Não vemos a SAD preocupada com nada disto e está a tentar prender os jogadores protelando a entrega da carta de desvinculação pedida pelos atletas. Dizem que lhes vão dar a c arta, mas todos os dias têm uma desculpa. Vão adiando, fazendo com que os jogadores acabem por jogar o próximo jogo.” Afirma, contudo, que no início da época “o projecto foi muito bem montado”, mesmo tendo sido “em cima do joelho”, porque chegaram a poucos dias de começar o campeonato.
A administração da SAD do Fátima, cujos investidores estão ligados ao grupo Lleon, tem procurado responder à saída dos jogadores nas últimas semanas com a contratação de reforços e espera, a qualquer momento, a chegada de alguns milhares de euros, que permitam pagar as dívidas mais urgentes, nomeadamente o alojamento dos atletas e os salários da equipa médica e dos funcionários, onde se incluem os jogadores. As despesas que têm sido cumpridas são as imprescindíveis, como o polic iamento, sob pena de nem se realizarem os jogos.
[LER_MAIS]Segundo o JORNAL DE LEIRIA apurou, o objectivo é pagar tudo de uma vez, mas está a ser difícil fazer chegar o dinheiro, tendo em conta que é uma quantia elevada. Segundo fonte da SAD, os administradores têm estado presentes em todos os momentos e explicado aos atletas o que se está a passar.
“O problema é que quando chegaram [em Agosto] esperavam um ‘buraquinho’, mas foram confrontados com um ‘buracão’. Têm estado a trabalhar no sentido de resolver todos os problemas e não vão desistir.”
Se no Fátima, a saída de jogadores tem sido significativa, na União de Leiria o optimismo e a confianç a na administração da SAD vai prevalecendo. O JORNAL DE LEIRIA sabe que os leirienses têm já pago o ordenado referente a metade do mês de Outubro. “Tem havido um esforço para que o problema se resolva, mas a verdade é que o futuro continua muito incerto”, adianta uma das fontes ouvidas.
Se o presidente da SAD Alexander Tolstikov admitiu o interesse de um investidor estrangeiro na equipa, revelando mesmo numa entrevista ao JORNAL DE LEIRIA que abandonaria o projecto quando esse negócio se concretizasse, a verdade é que cerca de um mês depois ainda não há novidades. O plantel, que chegou a ser informado directamente por Alexander Tolstikov da entrada desse investidor, deixou de ter qualquer tipo de referência sobre o assunto.
“De qualquer forma, parece-nos que a administração tem boas intenções e que está empenhada em resolver o problema”, acrescenta a mesma fonte, afirmando que é também isso que tem segurado os jogadores.
Os resultados desportivos, contudo, não têm sido os melhores. A equipa ainda não venceu em 2020. Mas o barco liderado por Filipe Cândido tem-se vindo a manter à tona, com a equipa a mostrar o mesmo empenho dentro do campo.
O JORNAL DE LEIRIA sabe, contudo, que houve situações complicadas de jogadores devido à falta de ordenados, nomeadamente por altura do Natal, o que “afecta sempre o grupo, por mais profissionalismo que exista”.