“A resistir como posso”. Foi esta a resposta que a minha prima me devolveu uns dias após as chuvas torrenciais que assolaram a cidade onde vive – Valência. Deste lado, a comunicação social e os nossos corações inundaram-se de imagens e de incredulidade, mas como não foi ainda à nossa porta que a tragédia aconteceu, a vida seguiu.
Há anos que se fala em alterações climáticas e há muito que sabemos o que está na sua génese. No entanto, o comportamento humano dificilmente muda se não estiver sujeito a pressões maiores. Sem verdadeira perceção do risco e entendendo a problemática como um risco global e não como pessoal ou local, pouco se faz.
Obviamente que sozinhos somos impotentes, mas é esta sensação de ineficácia individual que compromete, promovendo uma “ignorância plural”, pois o exemplo de uns influencia o comportamento de outros.
Também a ideia de que as alterações climáticas são políticas de esquerda ou de direita provoca ceticismo. Há quem negue até a sua existência, quando o aquecimento global é um assunto de todos.
É gigantesco o impacto que um fenómeno climático extremo tem na saúde psicológica de quem o vive e nas comunidades afetadas. Para além do trauma imediato (luto, destruição, perda de subsistência) e pós desastre (pânico, medo, revolta), a literatura fala de trauma a longo-prazo. Em Portugal, por exemplo, sabe-se que 8% das 1.700 crianças/jovens da zona afetada pelos incêndios de Pedrogão Grande apresentou sintomas de Perturbação de Stress Pós-Traumático. Ansiedade, ideação suicida, depressão, abuso de substâncias, insónia, são outros dos impactos possíveis.
A nível comunitário e social, os impactos são naturalmente infindáveis e devastadores. Depois há também a ecoansiedade de quem nada viveu na primeira pessoa, um medo antecipatório que compromete planos futuros, como a decisão de ter filhos. Acredito que a maioria tenha nas alterações climática uma preocupação real, contudo distante. Que esta distância encurte e deixe de ser barreira para a ação.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990