Nova vida para O Gato, que pula até ao Janardo. Na antiga escola primária, até agora desocupada, as aulas passam a ser de teatro – a formação é um dos objectivos da companhia dirigida por Fernando José Rodrigues, que em 2023 assinala 15 anos de actividade.
O aniversário, celebrado a 25 de Outubro, acontece a meio do gesto de ocupação da nova sede. “É a primeira vez que O Gato tem, assim, uma casa, que se vai chamar Escola do Gato”, adianta Fernando José Rodrigues. “Vai levar tempo, mas já nos mudámos”.
Os espaços de ensaio e acolhimento de público começam, entretanto, a ser imaginados. “De acordo com as necessidades, podemos mexer tudo aquilo, como se fosse lego, e com a particularidade de os actores estarem no meio das pessoas que estão a ver”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Era algo que limitava a nossa produção, não termos onde apresentar as nossas peças”.
Actualmente com 16 elementos, entre elenco e produção, O Gato tem no currículo, por exemplo, o percurso dramatizado Rota d’O Crime do Padre Amaro, estreado no início de 2023, que segue o enredo do romance de Eça de Queiroz, no centro histórico de Leiria.
No Janardo, Fernando José Rodrigues espera trabalhar com a comunidade e criar condições para diversificar a oferta. “Trazer outros grupos de outras estéticas, não necessariamente teatro, pode ser música ou bailado”, avança. “Estamos a trabalhar com uma professora de dança e queremos integrar isso na nossa oferta performativa”, explica. “Por outro lado, temos espectáculos que transformam textos do século XVIII com música do século XXI”.
Já este mês, dia 23, estreia a próxima peça do colectivo O Gato, que resulta da sexta edição do projecto de teatro sénior desenvolvido com o Lar Social do Arrabal e com as associações Adesba (Barreira), Assiste (Cortes) e Amitei (Marrazes). “Recolher as histórias dos mais idosos, que têm um baú imenso de memórias”, resume o encenador. O título do espectáculo – Antigamente é que era bom? – abre a porta para um passado, em muitos casos, de fome e censura. “É uma reflexão sobre o antes do 25 de Abril”, num momento em que já se iniciaram as comemorações oficiais dos 50 anos da revolução de 1974. “Uma espécie de agradecimento a estas gerações que passaram por muita coisa e que passaram por situações que as novas gerações não conhecem”.
Em palco, durante a apresentação de Antigamente é que era bom?, também vão estar actores de bengala e andarilho. “O teatro é algo terapêutico”, nota Fernando José Rodrigues. “Trazemos alegria, criamos movimento”.
Ainda antes do final do ano, a 9 e 10 de Dezembro, O Gato tem mais uma estreia em perspectiva: Os Revisitados, espectáculo musical e poético, com artes de palco, que se inspira na vida e na obra de Francisco Rodrigues Lobo, Afonso Lopes Vieira, Miguel Torga e Acácio Paiva, autores com ligações a Leiria.