A Ecologia do Medo refere-se ao impacto total dos predadores nas populações e nas comunidades, ou seja, estuda o impacto da predação assim como os seus impactos indirectos. A reintrodução de lobos-cinzentos no Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, entre 1995 e 96, teve vários efeitos devido à predação praticada por estes animais. O número de cervídeos diminuiu, a vegetação ao longo dos rios cresceu, as lontras recolonizaram as nascentes e até os rios mudaram o seu curso.
Em Yellowstone, os efeitos da presença de um predador grande, como o lobo, criou a chamada “cascata trófica”, na qual predadores, ao reduzirem a abundância de herbívoros, favorecem o crescimento de produtores. A cascata trófica é o princípio de uma transformação significativa num ecossistema, promovida com base no terror que os predadores impõem. O medo e a fuga moldam a fisiologia, o comportamento e até a anatomia das espécies para a fuga dos predadores. Também nos oceanos, os tubarões, têm este papel de fazer com que os seres que se alimentam das pradarias marinhas se mantenham em rotação permanente, mantendo o ecossistema equilibrado.
O ser humano também foi utilizando o medo para afastar animais de si ou dos seus bens. Da agricultura à pastorícia ou até na aviação civil, também usamos o medo como actuador. A visão idílica do mundo da Disney, segundo a qual os animais selvagens vivem vidas paradisíacas na natureza é completamente incorrecta e, de facto, há razões para acreditar que o sofrimento e a morte prematura prevalecem de forma clara sobre a felicidade desses animais. Na natureza, nem todos os animais são fofinhos e vivem em harmonia e felicidade.
Voltando a Yellowstone, os lobos-cinzentos reintroduzidos no parque sofrem agora com um ácaro parasita de tamanho microscópico causador da sarna, uma triste ironia porque a sarna também havia sido introduzida artificialmente umas décadas antes, no início do século XX, por um veterinário que desejava, justamente, eliminar lobos e coiotes da região das Montanhas Rochosas.
Numa época onde as invasões biológicas são quase diárias, o grande desequilibrador continua a ser a ignorância humana. A mãe de muitas desgraças!