Em período de defeso, quando o calendário competitivo está em banho-maria e os treinadores e atletas começam a preparar a próxima época, o atletismo está nas páginas dos jornais principalmente pelas eleições para a Federação da modalidade, a ocorrer no dia 27 de outubro.
E nem de propósito, quando estava a pensar no que escrever este mês, recordei com saudade alguém que durante décadas liderou o atletismo português e deixou uma marca indelével. E é desse senhor, com S grande, que vos quero falar, um leiriense de que nos devemos orgulhar, um líder inspirador e dinâmico, um homem corajoso e com princípios, que esteve à frente da modalidade no seu período áureo, o professor Fernando Mota.
Conheci-o em 2009, por altura da Superliga de atletismo que decorreu no Estádio Municipal de Leiria. Na altura desafiaram-me para fazer as entrevistas rápidas no final das provas e eu aceitei sem saber muito bem como iria correr e com natural receio de errar. Entrei em contacto com a FPA e além da equipa com quem iria colaborar tive a honra e o orgulho de o conhecer pessoalmente.
Bem-disposto e afável, incentivou-me e deu-me confiança para um desafio que até à altura ainda ninguém tinha feito em Portugal. Tudo correu bem, os elogios à organização foram unânimes e o país saiu prestigiado num evento que foi transmitido pelo Eurosport para o mundo. Pouco tempo depois estive no Campeonato da Europa de Corta-Mato (2010), em Albufeira, e na Taça da Europa de Marcha (2011), em Olhão, a desempenhar as mesmas tarefas, com a mesma equipa e, passe a imodéstia, o mesmo sucesso.
Sempre com o seu incentivo, o seu apoio e a certeza de que acontecesse o que acontecesse, poderíamos contar com ele. O professor, que tinha tido o arrojo de trazer para Portugal 3 grandes organizações internacionais em 3 anos, cuidou de que tudo corresse bem e a provar que a fortuna ajuda os audazes ainda alcançámos títulos europeus em corta-mato.
A amizade e a admiração que nasceu nesses anos aumentou com o tempo e o reencontro nas provas em que aparecia de surpresa, após o seu mandato, quando o vinham saudar com alegria e saudade, recordando os velhos tempos, e eram surpreendidos por se lembrar não só dos seus nomes como do das esposas, filhos ou acontecimentos ocorridos com eles num passado distante em alguma prova obscura que ele fazia questão de relembrar.
Que bom era ver o brilho nos olhos de quem com ele falava ao perceber que na sua memória tudo se mantinha intacto. Isto acontecia repetidamente e com todos, atletas, treinadores, dirigentes e juízes. Sempre discreto e educado, a sua grandeza mede-se nos feitos alcançados pelo atletismo nacional durante as décadas da sua liderança, mas também nas memórias felizes que deixou a todos os que consigo conviveram e que permanecem até hoje.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990