Se a economia portuguesa tem vindo a apresentar dinamismo, deve-o a “uma quantidade enorme de factores que se conjugaram”. O turismo e o aumento das exportações são dois deles, defendeu João Duque no jantar-conferência promovido sábado passado pela associação de construção e obras públicas Aricop.
No evento, o economista e professor universitário explicou que nos últimos anos se registou uma alteração no peso das várias componentes do Produto Interno Bruto (PIB), com o investimento a cair (tinha um peso de 27% em 1998 e de 15% em 2016) e as exportações a subirem (de 27% para mais de 40%).
O orador frisou, contudo, que o investimento “é muito importante”, porque contribui para a criação de emprego e para o crescimento, que gera rendimento, necessário para pagar a dívida, mas também para assegurar algo que pesará cada vez mais nos gastos da sociedade portuguesa no futuro, que são as pensões.
Com uma economia a “querer andar bem numa das pernas [exportações]”, mas que na outra [investimento] “está ainda muito deficiente”, João Duque salientou que se “aguenta” o corte do investimento durante algum tempo, mas que este “não se pode adiar eternamente”.
[LER_MAIS] Lembrou que no último ano “o investimento público foi o mais baixo das últimas décadas” e reconheceu que, dados os constrangimentos com que se depara, o Estado “terá dificuldades em fazer investimento”. “A boa notícia é que no Orçamento em discussão para 2018 há manifestação de interesse em aumentá-lo significativamente”.
Quanto a eventuais factores que possam afectar o sector da construção, apontou a disponibilidade de factores como a energia e a mão-de-obra, e os seus custos, e referiu que a nova lei que regulará a actividade das empresas que compram e gerem imobiliário “pode dar grande dinamismo ao mercado”, porque há muitos investidores interessados em Portugal.
Paulo Silva Santos, presidente da Aricop, referiu que no primeiro semestre o mercado apresentou sinais positivos, embora tenha salientado que “o bom momento” se deve mais a situações conjunturais do que a medidas estruturais de fundo.
Além disso, no quotidiano continuam “bem latentes” alguns constrangimentos sentidos pelos empresários, como as baixas margens, a concorrência desleal, a dificuldade em contratar mão-de-obra especializada e a falta de apoio da banca.
Apesar de os indicadores permitirem “acalentar boas expectativas”, também António Leal, presidente da Assembleia Geral da Aricop, defendeu na sua intervenção ser “sensato não se entrar em euforias”, devendo as empresas reforçar a sua aposta na qualidade das obras e dos recursos humanos para serem competitivas e vencerem os desafios.