Ricardo Porém e o irmão mais novo Manuel partiram na terça-feira para Jeddah para os derradeiros testes à máquina. Nos últimos dias que passaram em casa, as conversas foram absolutamente monotemáticas.
Dakar para aqui, Dakar para ali, o entusiasmo do pai, o carinho da mãe, todos eles têm estado com as atenções focadas na participação na mais dura prova de todo-o-terreno do Mundo, mas sem pressionar o rapaz. “Nada me exigem, só querem que dê o melhor.”
Para o piloto, as 24 horas do dia não chegavam para cumprir com tudo o que tinha pela frente. As obrigações profissionais, ainda por cima em final de ano civil, adensaram-se, ao mesmo tempo que teve de alinhavar todas as pendências relativas à presença na prova da Arábia Saudita e prosseguir o inestimável trabalho, agora “reforçado”, com o personal trainer.
O core, bem como o fortalecimento de costas, pescoço, e ombros, as partes do corpo que mais sofrem com lombas, trepidações e saltos de dunas, é “uma prioridade”, mas as pernas também, devido “às travagens muito fortes” que irá ter de fazer ao volante do Borgward.
Na verdade, esta é a segunda presença de Ricardo Porém no Dakar, mas “é tudo como se fosse a primeira”. Para começar, terá o irmão como navegador. Depois, troca os SxS, a espécie de buggy com que participou em 2019, por um automóvel a sério. Ainda por cima, numa equipa de fábrica.
[LER_MAIS]Finalmente, após onze edições na América do Sul, a última das quais integralmente no Peru, a prova mudou-se para o Médio Oriente e vai realizar-se na Arábia Saudita, de 5, domingo, a 17 de Janeiro.
No país vigora a implacável lei Sharia, pelo que a entidade organizadora decidiu entregar aos pilotos um Guia de Boas Práticas. É necessário ter atenção a algumas situações que podem ser punidas com penas de prisão e até de morte.
Evitar dar abraços em público, mostrar tatuagens ou até beber uma cerveja, por exemplo, mas também o gesto simples de retirar o fato de competição, uma vez que não se deve mostrar o tronco.
À margem de tudo isto, Ricardo Porém está “em pulgas” para partir com o número 332 colado ao chassis. Já sente o “nervoso miudinho” e a “ansiedade” a aproximar-se.
“No ano passado, participei numa categoria que é considerada de iniciação. Este ano é muito diferente. Ainda por cima estou numa equipa de fábrica, que é o ex libris do Dakar. Tenho de aproveitar a oportunidade para tentar dar continuidade nos anos seguintes. É por isto que sempre lutei e agora apareceu a oportunidade”, explica o piloto de Leiria, que não quer, para já, traçar objectivos desportivos para os oito mil quilómetros e 12 dias de competição.
Até porque, o alemão Borgward é um carro novo, com o qual só teve uma experiência competitiva na Baja Portalegre 500, em Outubro. “Ainda não tem a performance de um Mini ou de um Toyota, mas está a ser muito bem desenvolvido pelo meu colega Nani Roma”, ilustre vencedor do Dakar em carros e motos.
Mesmo assim, Ricardo está nas nuvens. “É por isto que sempre lutei e agora apareceu a oportunidade.”