Uma intervenção “completamente errada”, feita “à revelia” das boas práticas, com a limpeza “drástica” de margens, é como a associação ambientalista Oikos classifica a intervenção feita na ribeira de amor e no rio Lis entre as pontes dos Caniços e Hintze Ribeiro, em Leiria.
No caso dos trabalhos feitos no troço citadino do Lis, a Oikos considera que se trata de uma intervenção que “numa perspectiva técnica e ecológica, não se devem realizar”, pelos impactos na vegetação e na margem.
A agravar a situação está o de os trabalhos terem sido realizados “num momento em que a maioria das aves nidificantes naquele habitat iria começar a preparar os respectivos ninhos, garantindo a diversidade biológica em espaço urbano”, denuncia a associação.
A Oikos chama ainda a ainda a atenção para o facto de a intervenção “contribuir para a abertura daquelas áreas à proliferação de espécies vegetais invasoras que ali já existem e são indesejáveis” e por potenciar “o risco de erosão das margens”.
“Em suma, entre outros, em resultado desta intervenção tecnicamente mal efetuada, correm-se vários riscos imediatos”, denuncia a associação, frisando que “para lá de um “simples” corte radical, há muito mais implicações”.
Erros na ribeira de Amor
Também a recente intervenção feita pela Câmara de Leiria na ribeira de Amor é contestada pela Oikos. Ao JORNAL DE LEIRIA, Mário Oliveira fala de uma intervenção “completamente errada”,[LER_MAIS] feita “à revelia” das boas práticas.
Além do corte “raso, que não respeita a vegetação ripícola”, o ambientalista critica a forma como se procedeu ao desassoreamento do curso de água, com a deposição das areias nas margens.
“Se tivesse chovido, os inertes já estavam de novo na ribeira. É isso que vai acontecer quando chover. Estamos a deitar dinheiro fora”, alega Mário Oliveira.
Em relação à tentativa de eliminação das canas, o ambientalista considera também que a intervenção foi “totalmente ao lado”. A prova disso, é que semanas depois da intervenção, já se vêem rebentos ao longo das margens.
“Ao cortar as canas devem plantar-se árvores que vão criar ensombramento e evitar a proliferação de invasoras. Dá trabalho e no imediato é mais dispendioso, mas a longo prazo os resultados serão diferentes”, salienta Sérgio Duarte, também da associação Oikos.
“A limpeza das canas era necessária, mas não desta forma. Remexeu-se o solo e deixaram-se os taludes à mercê da erosão. No curto prazo, vamos ter ainda mais canas”, adverte Mário Oliveira.
O presidente da Oikos chama ainda a atenção para uma árvore que terá sido removida e que se encontra no meio do rio. A câmara reconhece que se tratou de um erro e que a árvore será retirada, estando a ser o equacionado o “seu reaproveitamento nas técnicas de engenharia natural para estabilização de taludes naquele local”.
A câmara esclarece que a intervenção faz parte de “um plano abrangente para diversas linhas de água no concelho” e teve como objectivo o “regular fluxo hidrológico da ribeira”, com os trabalhos a decorrerem em duas fases, a última finalizada a 25 de Janeiro, com a retirada dos resíduos e sedimentos que tinham ficado depositados no leito da ribeira e que “tiveram uma quantidade superior à expectável”.
A intenção é que, numa intervenção posterior, essa “mistura” venha a ser “compactada/estabilizada com eventual recurso a técnicas de hidrosementeira, com eventual conjugação de aplicação de manta orgânica com plantação”.
“Está ainda prevista uma terceira fase, que acontecerá após lançamento do concurso e de nova articulação com a Administração de Região Hidrográfica”, acrescenta a autarquia.