Assim como em Peniche o surf tem vindo a ser grande motor económico de concelho, em torno do qual têm vindo a proliferar hotéis, alojamentos locais, escolas e lojas de equipamento aquático, também as várias praias do concelho de Alcobaça têm despertado interesse entre portugueses e estrangeiros. Na Praia de São Martinho do Porto, a chegada através de comboio é uma aventura já icónica para crianças de várias gerações.
Com alojamento de várias tipologias, incluindo o parque de campismo, a baía é visitada por famílias ano após ano. Já a Praia de Paredes da Vitória começa a ser ponto de encontro habitual para surfistas e apreciadores da modalidade. Na terceira edição, o Vitória Surf Challenge tem captado cada vez mais público, para prática desportiva, campismo e acções de limpeza de praia e não faltam alojamentos ao longo das várias praias de Alcobaça. E também a Nazaré tem sabido projectar o fenómeno natural das ondas gigantes, entre público nacional e internacional, fazendo dinamizar a economia local.
Serafim Silva, responsável pelo grupo de hotéis Miramar, reconhece que, na Nazaré, as ondas gigantes têm projectado este território por todo o mundo. Além deste actrativo turístico, mesmo que já beliscada por algumas construções menos apropriadas, a beleza natural da vila, que conserva ainda algo de pitoresco no seu edificado, bem como o extenso areal de areia limpa e a boa gastronomia de peixes frescos, são outros factores de captação de turistas, considera o empresário. Por outro lado, não é de menos importância o trabalho que o grupo Miramar tem realizado ao longo de décadas na qualidade da oferta e na sua promoção. “Temos nesta altura os nossos dois hotéis cheios. São 120 quartos, 350 camas. E isso deve-se ao nosso trabalho de marketing”, refere Serafim Silva.
Como oferta complementar, o grupo Miramar detém também o Thalasso Nazaré, um moderno centro de talassoterapia, que conta com cerca de 400 sócios permanentes, não só da zona Centro do País, como de Lisboa e de outros pontos do território nacional. E recebe muitos turistas estrangeiros, alguns hospedados nas unidades hoteleiras do grupo Miramar, outros instalados nas diferentes tipologias de alojamentos disponíveis no concelho, explica o empresário.
Francisco Almeida Gomes é responsável pelo Grupo de Hotéis Cristal, que nasceu há 33 anos na Marinha Grande e que conta actualmente com seis unidades hoteleiras no País, duas delas junto à praia: o Cristal Vieira Praia & SPA e o Hotel Cristal Praia Resort & SPA. São ambas unidades quatro estrelas que, no total, têm 183 quartos e captam sobretudo o interesse de turistas portugueses e espanhóis. Também na Praia da Vieira, no Verão, o parque de diversões aquáticas Mariparque serve de complemento à oferta destas unidades.
De acordo com o responsável pelo grupo, para o sucesso dos alo jamentos não basta que estejam situados junto à praia com locais de interesse relativamente próximos, como Fátima, Batalha ou Nazaré. Além da boa localização, os clientes programam as suas férias de Verão, em família, de acordo com uma grande variedade de oferta, expõe Francisco Almeida Gomes. “Verificam se tem piscina ou parque aquático, se tem SPA, se tem momentos de repouso com animação para crianças, etc.”
Já no Inverno, as famílias vão preferir encontrar sossego nas unidades hoteleiras, apreciar a gastronomia da região e usufruir de piscina de água quente, prossegue Francisco Almeida Gomes. É esta capacidade de agregar ofertas e experiências ajustadas às necessidades dos vários públicos que diferencia as unidades hoteleiras, remata o empresário.
No Dia Nacional da Sustentabilidade, 25 de Setembro, o Turismo de Portugal distinguiu 100 empresas do sector com o selo de ESG Engaged. Empresas do sector turístico, que se destacaram pelas boas práticas de sustentabilidade ambiental, social e económica. Entre elas figuram várias empresas localizadas no distrito de Leiria, junto ao mar, que gozam da proximidade do Oceano Atlântico para oferecer produtos turísticos diferenciados e sustentáveis. Duas deles, localizadas na Atouguia da Baleia, em Peniche: Bukubaki e Guia Viagens.
Aquando da cerimónia, que decorreu no Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel, Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, sublinhou que “a sustentabilidade já não é uma opção, nem no turismo nem em nenhum outro sector de actividade. É uma condição de sucesso e de crescimento”. É no sentido da sustentabilidade que trabalha o Bukubaki, explica Sara Paiva, directora-geral do equipamento. Este parque de campismo conta com tendas gampling e alojamentos com casas de madeira, nas árvores, e promove programas de surf e skate.
Sara Paiva salienta que o empreendimento foi constituído desde início, em 2017, com o objectivo de aproximar os hóspedes e a natureza. Com público que se divide entre portugueses e estrangeiros, é crescente a sua preocupação com as questões da sustentabilidade, às quais o empreendimento dá resposta. “As tendas são 100% algodão e as casas em madeira, temos painéis fotovoltaicos, damos preferência aos fornecedores locais”, exemplifica a responsável.
O facto de ser uma mulher a liderar a direcção demonstra a preocupação com a igualdade de género, nota ainda.
Na Atouguia da Baleia e igualmente distinguida pelas boas práticas de sustentabilidade foi a agência Guia Viagens. Paulo Santos, sócio-gerente da Guia Viagens, fala sobre o interesse do público nos destinos de mar em Portugal, seja no Algarve ou no Norte, nos arquipélagos da Madeira e dos Açores A Guia Viagens nasceu em 2010, está sediada na Atouguia da Baleia, conta com outra loja na Lourinhã e está a estudar o mercado para inaugurar um terceiro balcão num concelho limítrofe.
Em 14 anos de actividade, Paulo Santos observa que, apesar de muitos clientes gostarem de fazer férias no exterior, até em destinos distantes, como as Maldivas, acabam muitas vezes por reservar um período de descanso na costa portuguesa. É uma tendência esta valorização dos portugueses da oferta turística interna junto ao mar, constata o sócio-gerente.
Lazer e desporto sobre as ondas e nas profundezas do mar
Chama-se Nazaré On_da Wave, nasceu em 2014, na Nazaré, e é uma empresa que tem vindo a disponibilizar várias actividades aquáticas, ao mesmo tempo que se envolve em projectos científicos e de sensibilização para a preservação dos oceanos. A empresa é liderada por Jorge Barroso e os seus filhos, Inês e André Barroso. Passeios de barco, observação de cetáceos e de aves migratórias são algumas das actividades dinamizadas pela Nazaré On_da Wave, conta André Barroso.
No que respeita à observação de cetáceos, em articulação com o Instituto Politécnico de Leiria e em articulação com a investigadora Teresa Mouga, esta empresa apoiou no desenvolvimento do projecto Ocean Senses. O projecto consistia em envolver os turistas no desafio de identificar estes cetáceos neste concelho e resultou na identificação de 175 golfinhos comuns e mais de 60 golfinhos-roazes, recorda André Barroso, salientando que projectos deste género têm tido continuidade, com parceiros diferentes.
O público da Nazaré On_da Wave é sobretudo internacional, que chega muitas vezes por recomendação de alguém que gostou da experiência proporcionada na Nazaré. “França, Países Baixos, Finlândia, Dinamarca, Alemanha e Estados Unidos da América são alguns dos mercados mais fortes. Geralmente são pessoas interessadas em obter mais conhecimentos relacionados com o mar”, explica André Barroro.
A actividade mais recente da Nazaré On_da Wave são as saídas para o mar para observação de aves migratórias, que apenas decorrem durante o Inverno e tiveram início no passado mês de Outubro. Gansos-patola, pardelas de diferentes tipos, garajaus e papagaios-do-mar são algumas das espécies que podem ser observadas nesta zona, exemplifica o responsável.
A preocupação com a preservação do mar está claramente espelhada nas acções da Nazaré On_da Wave. Por cada saída de uma embarcação, a empresa obriga-se a recolher pelo menos cinco peças de lixo do mar. “Felizmente no último ano há menos lixo, mas acredito que seja mais o resultados das correntes marítimas do que da sensibilidade das pessoas”, considera André Barroso. E é nesse sentido, que a empresa não pára de dinamizar acções de sensibilização, sobretudo junto da população mais jovem.
“Há um ano desenvolvemos o projecto Pé de Feijão no Mar. Juntamos manilhas de betão no Porto de Abrigo e trouxemos alunos de várias escolas a avaliar o crescimento de diferentes espécies de fauna e flora que passaram a habitar naquelas estruturas”, recorda o responsável. Os alunos eram desafiados a observar espécies de algas, através de microscópio e convidadas a participar em actividades de paddle e caiaque, “para conhecer e desfrutar do mar em todas as vertentes”, nota André Barroso.
Localizada em Peniche, a JustDive foi, em 2022, a segunda maior escola de mergulho da Península Ibérica, tendo realizado, nesse ano, 1200 cursos de mergulho. A empresa tem sido também, nos últimos cinco anos, a escola que mais formação deu em todo o País, refere o CEO, Pedro Ramalhete. Para isso tem contribuído o glamour do Arquipélago das Berlengas, considera o responsável. A JustDive dinamiza baptismos de mergulho nas Berlengas (300 a 400 por ano) e, além disso, leva mergulhadores já certificados a explorar o mar naquelas ilhas.
“A biodiversidade, o histórico de naufrágios que ali tiveram lugar, bem como o glamour da ilha têm contribuído para o interesse do público”, salienta. Pedro Ramalhete acrescenta ainda que a JustDive também é solicitada para formação na área da náutica de recreio, com carta de marinheiro, carta de nadador-salvador e até módulos adicionais para dirigir 4×4 de salvamento, motas náuticas de salvamento, etc. Esta é também a única escola do País na área do mergulho profissional, habilitando quem queira trabalhar em aquacultura, na construção e manutenção subaquática, manutenção de navios, etc.
O público dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa tem vindo a crescer nesta vertente, nota o CEO.
Em São Pedro de Moel, a actividade da Murillos Surf & BB Academy remonta a 2006. Foca-se sobretudo nas aulas de surf e bodyboard, embora também dinamize standup paddle. “Temos os nossos serviços divididos entre aulas sazonais/ocasionais, que funcionam o ano todo, sobretudo na Páscoa e no Verão, e as aulas da época de inverno (de Outubro a Junho), que funcionam em regime permanente”, explica o treinador, Miguel André.
Apesar de sediada em São Pedro de Moel, a escola acaba por tirar partido do mar em vários pontos da nossa costa. Durante a época de Inverno são mais comuns as deslocações a Peniche, “onde acabamos por ter cerca de 12 a 15 praias/spots diferentes”. No Verão, “utilizamos prioritariamente São Pedro de Moel, quer para as aulas de iniciação, quer para as dos níveis intermédio e avançado. Embora muitas vezes e devido às condições de mar acabemos por recorrer às praias da Polvoeira, Paredes da Vitória, Água de Madeiros e até Praia Velha.”
Ao longo dos anos, terão passado por esta escola cerca de 20 mil alunos de todas as idades, contabiliza o responsável. “Temos regulares (época de Inverno e Verão), sazonais de Verão, habitués das clínicas de surf, ocasionais, empresariais (acções de team building), grupos de despedidas de solteira/o, de aniversários, alunos com algum tipo de deficiência (surf adaptado), etc.”
Quanto a idades, “temos desde os 5 anos até aos 66 sendo que o aluno mais antigo que tivemos tinha 78 anos à data da aula que fez connosco”, orgulha-se Miguel André. “Grosso modo, temos muitas crianças (5 aos 11) muitos jovens (12 aos 15), os jovens adultos (24 a 35 e 36 a 45) e cada vez mais começam a querer aventurar-se alunos dos 46 aos 55 anos”, conta o responsável.
Cerca de 40% do seu público é estrangeiro, que chega de diversas latitudes: sobretudo da Europa Central, Alemanha, Holanda, Inglaterra, França, Suíça e Espanha.
Miguel André entende que a possibilidade de praticar surf na nossa costa é um atractivo cada vez mais forte para os turistas.
“A procura de Peniche pela qualidade de ondas para níveis iniciantes e intermédio e a Nazaré pelo mediatismo das ondas gigantes ultrapassou todas as previsões e está a mudar hábitos, tendências e economia na faixa costeira do distrito de Leiria que, apesar de não ser associada ao nome da cidade de Leiria, se encontra referenciada internacionalmente como um dos destinos predilectos e de maior eleição para prática de surf”.
Também no caso da Murillos Surf & BB Academy, a preservação ambiental é uma preocupação constante. “Durante alguns anos (2008 a 2013) desenvolvemos acções de limpeza de praia e de sensibilização ambiental no âmbito da comemoração do International Surfing Day com o apoio e sob a égide da EuroSIMA, que é uma Federação Europeia da Indústria do Surf, que promovia esse tipo de acções e a quem estávamos associados. Nos últimos anos temos estado mais focados no apoio e inclusão social através do surf, com várias actividades com populações com deficiência e/ou necessidades especiais.”