No mês do Orgulho LGBTIQA+, em que tanta gente “de bem” se mobiliza para gritar pela paz das crianças, vale a pena trazer ao debate uma perspectiva que faz muita falta à análise da existência das identidades Queer (pessoas Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Itersexo, etc), e que é instrumental para compreender a sociedade: a perspectiva de classe.
É sempre uma ideia que se recalca e evita muito. Dizem que cheira a mofo, que soa a cassete, mas eu digo que está mais fresca que nunca. Os idiotas úteis do preconceito dirão que o que está em causa são os valores – a família!
Mas eu pergunto: verdadeiramente, o que é que ameaça mais a tua família? É o uso inclusivo de casas de banho nas escolas, ou não haver oferta pública de escolas, JI e creches para todas as crianças? O casal gay do prédio, ou não teres prédio, porque não consegues pagar uma casa com o teu salário? A Marcha LGBTI que pára o trânsito por alguns minutos, ou o preço da gasolina, que não te deixa ir a lado nenhum? A tua filha ver um beijo lésbico na TV, ou assistir às discussões familiares que a falta de dinheiro ao final do mês geram lá em casa? O teu filho aprender na escola que há meninos que gostam de meninos e meninas que gostam de meninas, ou teres de trabalhar tantas horas que não tens tempo para o educar e brincar com ele?
O que ameaça a tua família não é a existência das pessoas Queer e o seu direito a um lugar na sociedade livres de vergonha e discriminação. O que ameaça a tua família é não teres meios para viver com dignidade da força do teu trabalho, com um ordenado que chegue para o mês todo, e que permita ter saúde, educação de qualidade, acesso à cultura, desporto e lazer! E adivinha lá! Não são as pessoas LGBTIQA+ que te tiram essas coisas!
E se saem à rua, e querem um mês de orgulho e visibilidade não é porque se acham mais especiais que a tua família. É apenas porque, a acrescentar a todos estes problemas que também têm nas suas vidas, ainda continuam a levar com o preconceito, a intolerância e a crueldade de tantas pessoas que legitimamente se sentem frustradas com a sua vida, mas que direccionam muito mal a sua raiva.