Desde que tomou a decisão de seguir a vida religiosa que Nuno Miguel Rodrigues nunca teve dúvidas de que seria como missionário que se realizaria em pleno. Membro da Congregação do Espírito Santo, presente em mais de 60 países espalhados pelos cinco continentes, esteve 14 anos como pároco em Cabo Verde e cumpriu missão na Guiné, em Angola e São Tomé e Príncipe.
Depois de seis em Portugal, onde diz ter encontrado uma “Igreja acomodada, sem entusiasmo nem paixão”, mudou-se no ano passado para os EUA, onde trabalha em duas paróquias do estado de Rhodes Island, que conta com uma forte comunidade portuguesa. Um “grande desafio” que, no entanto, não o faz esquecer África, terra à qual espera voltar.
Nuno Miguel Rodrigues nasceu em 1974, ano da Revolução dos Cravos, que apanhou a família em Angola, onde o pai cumpriu serviço militar. Com o pós-25 de Abril, dá-se a vinda para Santa Eufémia, Leiria. Fez o percurso escolar normal, até ingressar no seminário, já com a perspectiva de, um dia, partir em missão. “Cresci numa família de missionários. Nunca quis ser padre de paróquia.”
Ainda antes de ser ordenado, passou um ano, como estagiário seminarista, em Cabo Verde, país ao qual voltou já como padre para assumir a paróquia de São Miguel Arcanjo. “Foram os 14 anos mais belos da minha vida. Passei diculdades, porque as carências eram muitas, mas recebi um ‘banho’ de missão que me preparou para a vida”, confessa Nuno Rodrigues.
Esse trabalho acabou por ser interrompido em 2012, quando os superiores da congregação o chamam para Lisboa. Triste por deixar África, acatou a determinação. Foram, diz, seis anos de “grande dificuldade”, sobretudo, pelo “enorme contraste” que encontrou na dinâmica da Igreja. “Em Cabo Verde tinha uma comunidade viva e em Portugal encontrei uma Igreja de funeral, uma Igreja acomodada, que deixou de ter entusiasmo e paixão. Fala-se muito de renovação e de sínodo, mas vê-se muito pouco.”
A dificuldade de se encaixar nesssa Igreja levou-o a fazer um ano sabático. Inevitavelmente, voltou a África, agora a São Tomé e Príncipe e à missão franciscana que a irmã Lúcia Cândido, sua prima, lidera no município de Neves e que apoia mais de 3.000 pessoas. Foi integrado num grupo de voluntários leigos e a experiência revelou-se “fabulosa”.
“Voltei ao coração da missão”, diz o padre Nuno Rodrigues, que mantém a ligação àquele país através da Associação Abraçar São Tomé, que ajudou a criar para apoiar a obra da irmã Lúcia Cândido. Findo o ano sabático, propôs aos superiores voltar à missão ou ir para os EUA, mais concretamente para a diocese de Providece, onde sabia que precisavam de um padre que falasse português.
Depois de duas curtas experiências em território americano, que serviram, sobretudo, para aprender Inglês, em Setembro do ano passou radicou-se em Rhodes Island – estado que fica entre Boston e Nova Iorque -, tendo sido nomeado pelo bispo local para colaborar com duas paróquias portuguesas, que têm também uma grande comunidade de cabo-verdianos. “É uma realidade completamente diferente. Os desafios são enormes e está a ser uma experiência interessante. Mas o meu coração está em África. É como missionário que me realizo em pleno.”