– Já não há paciência… para o vocábulo ‘território’, de que os autarcas deste tempo usam e abusam, muitas vezes sem sequer o compreenderem, tão pouco o estimarem. De repente deixámos de pertencer às nossas terras, à nossa freguesia ou concelho, e habitamos todos um território. O pior é quando é ‘deprimido’ ou ‘de baixa densidade’…
– Detesto… ervilhas, favas, nabiças e nabos (um dia, em miúda, a minha mãe achava que me faziam falta e plantou-me, à mesa, em frente a um prato de sopa com nabos, com a sentença de só me levantar depois de comer tudo. Engoli-os sem mastigar). Ah, e também que me tomem por parva.
– A ideia… de levar a literacia para os media a todas as escolas, mas também aos pais (e aos avós) não me sai da cabeça. É urgente desmontar a ideia de que são as redes sociais que melhor informam, e fazer vingar o quanto precisamos do jornalismo e dos jornalistas, de quem é preparado para apurar factos, perguntar e contrapor.
– Questiono-me se… quem vota na extrema direita tem noção do ovo da serpente que está a ajudar a criar.
– Adoro… escrever sem limite de caracteres. A praia sem vento, mesmo que eu não passe da sombra. O outono e o frio, uma lareira acesa, um copo de vinho (branco), as gargalhadas das
minhas amigas. E música. Para cantar ou dançar.
– Lembro-me tantas vezes… dos ensinamentos da D. Lucy (minha eterna directora), naquela que foi a melhor Redacção do mundo, ali na segunda metade dos anos 90, num histórico edifício do Largo Cândido dos Reis. Depois crescemos, a economia encolheu, veio a receita de “fazer mais com menos” e o futuro foi aquilo que se viu.
– Desejo secretamente…ganhar o euromilhões. Nem precisa de ser o prémio maior. Apenas o suficiente para poder ficar o dia todo a tricotar, ou escrever só por prazer.
– Tenho saudades… da sopa de grão da minha avó Leontina, da mesa comprida onde nos arrumávamos todos depois das vindimas ou das descamisadas. No fundo, tenho saudades daquele tempo todo em que a minha maior preocupação era ficar acordada para ver a novela. Ou como cantava Alfredo Marceneiro: “é tão bom ser pequenino/ ter pai, ter mãe, ter avós/ ter esperança no destino/ e ter quem goste de nós”.
– O medo que tive… de ficar para sempre confinada, quando veio a pandemia. No primeiro concerto com milhares de pessoas, ainda de máscara, chorei copiosamente de tanta emoção. Quase avistava as torres da Ciciberlância (sim, era um concerto dos Xutos. Quem mais poderia ser?)
– Sinto vergonha alheia… dos pés de microfone.
– O futuro… “há-de ser o que eu quiser”. Era bom, era…mas temo pelo lugar estranho em que o mundo se está a tornar. Será precisa mais força e novas formas de luta para velhas causas.
– Se eu encontrar…um tesouro escondido na serra de Sicó (não estou a falar dos milhões enterrados no mamarracho que ninguém sabe o que vai ser) lanço um jornal e vamos todos
viver.
– Prometo…ser fiel aos meus princípios, mesmo que todos os dias pague um preço incerto por isso – que inclui farpear os interesses instalados.
– Tenho orgulho… no João e na Leonor, os meus filhos. Nas pessoas em que se estão a tornar, com o coração no sítio certo, e a capacidade de dizerem não. Não raras vezes ocorre-me mesmo dizer ao mundo: Fui eu que fiz! Eu e o pai, que apesar de muito prezar a independência, esta foi uma produção conjunta, como está bem de ver.