As raízes do primeiro Ópera Café em Portugal – é assim que os donos, os contra-tenores Luís Peças e João Paulo Ferreira, o apresentam – encontram-se, num certo sentido, no outro lado do Atlântico, no estado de Pernambuco, no Brasil. Dali é originário João Paulo Ferreira, que actuou pela primeira vez ao vivo com Luís Peças durante um espectáculo na Nazaré, em 2014.
A relação entre os dois cantores líricos nunca mais se desmanchou e estão juntos no novo projecto a funcionar no Arco de Cister, que faz a ligação entre a Praça Afonso Henriques e a Praça da República, junto ao Mosteiro de Alcobaça.
Numa antiga dependência do monumento, em tempos provavelmente utilizada pelos monges como celeiro, onde antes funcionava um restaurante, o serviço de cafetaria e salão de chá oferece agora pastelaria fina, com influências do Brasil, de França e do receituário conventual, mas, também, refeições rápidas, que incluem tábuas de queijos e enchidos, montaditos de pão caseiro, bruschettas, patês de fígado e frango acompanhados com maçã e pão tostado, cocktails de camarão, uma variedade de tostas e sandes, saladas inspiradas em compositores como Verdi, Puccini, Mozart e Haendel e uma generosa lista de bebidas, com cafés, chás, sumos naturais, smoothies, sangrias, cervejas, licores e vinhos.
A iluminação suave e os tons acolhedores da madeira dominam a decoração, em que não falta um piano de cauda. O espaço, onde facilmente se identificam as linhas de construção que o ligam a séculos remotos, está disponível para almoços e jantares, mas apenas sob reserva por grupos com 10 ou mais pessoas. A ementa, a definir caso a caso, deverá basear-se, maioritariamente, na cozinha tradicional portuguesa.
É, segundo João Paulo Ferreira, “um grande sonho” de dois profissionais acostumados a cantar na abadia de Alcobaça, além de outros palcos. A união entre a gastronomia e a música é uma ideia que têm desde há anos para o Arco de Cister, “um lugar especial”, que vêem como “a porta do Mosteiro”.
No Ópera Café, ao estilo de uma casa de fados, querem proporcionar “momentos esporádicos de canto lírico ao vivo”, algo que, de resto, João Paulo Ferreira já protagonizava, ao ar livre, no Arco de Cister, para surpresa de quem visita a cidade, em especial, os turistas, que “ficam sempre encantados”.
“Reacções muito boas, muita curiosidade, é sempre muito gratificante”, diz ao JORNAL DE LEIRIA o contra- tenor nascido no Brasil, com vários álbuns gravados, segundo classificado com o grupo Viva La Diva no Festival da Canção 2017 e finalista, a título individual, em edições do concurso Got Talent em Portugal e Espanha.
Com o Ópera Café, João Paulo Ferreira e Luís Peças pretendem, justamente, tal como acontece através de programas de televisão em canais generalistas, levar “a todo o tipo de público” alguns géneros musicais que habitualmente se relacionam com círculos mais restritos.
“A intenção é popularizar”, explica João Paulo Ferreira, para quem o canto lírico é intemporal. “O melhor exemplo é a música barroca”.
Querem mostrá-lo a partir de Alcobaça, num registo “emotivo e sensível”, para que possa “alegrar todos os corações”.