Luna Barreto, 22 anos, chegou de Tomar para integrar o exército de quase 100 voluntários que ajuda a preparar a aldeia de Cem Soldos para acolher a multidão de amantes de música feita em Portugal que, desde 2006, ali peregrinam.
De bolsa festivaleira de pano e copo à cintura – material obrigatório – chegou uma semana antes do início do festival Bons Sons e sairá um dia depois. É o terceiro ano em que participa. Para se ser voluntário, é preciso passar por uma entrevista e responder a várias perguntas.
“Se estivesse no Porto, como convenceriam um estrangeiro a ir ao Bons Sons?” Luna diz que apenas diria a verdade sobre o festival. Seria o suficiente. Todos fazem a entrevista e dos 500 que, este ano, se candidataram, 400 ficaram de fora.
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“No ano passado fiquei no restaurante dos artistas e este ano também quero lá trabalhar”, diz, justificando que os músicos são gente simpática e solícita. Até ao início do Bons Sons, ajuda no que é preciso. Em equipa ou a solo, caia paredes, roça ervas, monta redes de sombra e ajuda a tornar a “aldeia” mais acolhedora.
Porque se há coisa que sobra em Cem Soldos é a simpatia de toda a gente, dos mais velhos aos mais novos. “Estranhamente, não há muitos voluntários de Tomar”, faz notar. Mas há jovens de todo o País e mesmo do Brasil. Entre hoje, dia 8, e domingo, dia 11, o Bons Sons celebra 13 anos e dez edições que o transformaram num evento de culto.
Recusa ser para massas e, em 2019, reduziu o número de entradas das 38.500 do ano passado, para 35 mil, ao longo dos quatro dias. Jorge Silva, director executivo do festival e presidente do Sport Club Operário de Cem Soldos (SCOCS) recorda o caminho percorrido.
"Era ‘uma coisa numa aldeia do Ribatejo, dedicada à cultura, entidade e música portuguesas’ e é extraordinário termos conseguido chegar até aqui. No ano passado, embora tenha sido a melhor e maior edição de sempre, percebemos que não somos um evento de massas.
Queremos ser um festival de experiências", garante. Entre as novidades, para que o público vá “viver a aldeia” – mote do festival -, houve o reforço do da eliminação do plástico, com a loiça a ser completamente biodegradável e até houve a criação de um espaço de silêncio no campismo.
"Queremos que, a partir de uma certa hora, deixem de procurar a Elsa… é uma tradição que ainda mexe! Há um público que traz crianças e que quer mais sossego." As pessoas da terra, sublinha, continuam entusiasmadas com o evento após estes anos, e tudo fazem para ajudar.
"Temos várias iniciativas para celebrar o aniversário como um livro que ilustra o que aconteceu ao longo das dez edições: o que Cem Soldos e o País ganharam culturalmente, com o Bons Sons. Somos mais do que um fes- tival de música, somos uma aldeia em manifesto", diz.
Bons Sons é núcleo de partilha e criação
Luís Ferreira, criador e director artístico do evento, anuncia um programa virado para a celebração nos dez palcos. Em 2019, a Música Portuguesa a Gostar Dela Própria passou para o Lagar, na Igreja paroquial há um espaço dedicado a Carlos Paredes e a instrumentistas que irão demonstrar uma dimensão orgânica da música clássica, e a Eira é agora o palco Variações.
A festa de encerramento está a cargo de Moullinex, que chamou vários artistas para colaborar. [LER_MAIS] Além disso, Luís Ferreira fez um desafio a 13 bandas, que já passaram pelo festival, para darem sete concertos especiais, seis em dupla.
É o caso de Noiserv e First Breath After Coma que até criaram temas originais para o Bons Sons. E não foram os únicos. "O festival não é apenas um espaço de programação, mas também de desafio à criação. É um núcleo de partilha e criação, como o que já existe em Leiria, com os músicos a tocar uns com os outros", refere.