Passados dois anos fortemente marcados pelos impactos da pandemia, o turismo religioso “começa a sentir sinais de retoma, ainda lenta e restrita a mercados de proximidade”, mas que se traduziram em “boas perspectivas para a semana da Páscoa”, período que tradicionalmente marca o início de época em Fátima.
Purificação Reis, presidente da Associação Empresarial Ourém-Fátima (Aciso), diz ao JORNAL DE LEIRIA que “embora nem toda a capacidade instalada, em termos de empreendimentos turísticos, tenha reaberto, a maioria dos estabelecimentos em funcionamento apresenta números optimistas de ocupação para o período da Páscoa”.
“Contudo, a capacidade instalada ainda está longe de estar esgotada para esta semana” e “é certo que este aumento do fluxo turístico se faz sentir, essencialmente, à custa do mercado espanhol e que ainda não se conta com movimento significativo oriundo de mercados de longa distância, como seria já habitual quando comparado com anos pré-pandemia”.
São espanhóis, precisamente, os ocupantes dos 43 quartos do Hotel Cruz Alta durante esta semana. É uma operação de colégios católicos do país vizinho, que costumavam vir também antes da pandemia, conta Pedro Pereira.
O empresário, também gerente do hotel Estrela de Fátima, diz que nesta unidade de quatro estrelas apenas amanhã e sábado a lotação estará “praticamente completa” (84 quartos). No domingo desce para 35% e no início da semana que vem para 5%, taxa “dramaticamente baixa”.
“Ainda estamos muito longe dos valores do passado. Tardam a chegar os turistas de mercados mais afastados”, constata.
No final da semana passada, Jorge Heleno, responsável pelo Dom Gonçalo Hotel & SPA, disse ao JORNAL DE LEIRIA que a ocupação para a semana da Páscoa estava a “compor-se”, explicando que sendo as reservas praticamente todas feitas online acontecem mais em cima da hora.
Alexandre Marto Pereira, administrador do grupo Fátima Hotels, confirma que nesta semana algumas unidades estão quase completas, enquanto outras registam baixas taxas de ocupação.
Adianta que alguns mercados registam recuperação, como o espanhol, mas outros estão a arrancar “muito timidamente”, como é o caso do mercado coreano, “que era muito importante para Fátima”.
Já os norte-americanos mostram-se receosos devido à guerra na Ucrânia, que para Alexandre Marto Pereira terá como efeitos negativos o impacto nos preços, nomeadamente das viagens, e a instabilidade. “A incerteza e o medo relativamente ao futuro levam as pessoas a poupar em vez de gastar”.
Acredita, contudo, que Portugal pode beneficiar de alguma transferência da procura, ou seja, turistas que tencionavam viajar para destinos próximos da Ucrânia poderão em vez disso optar pelo nosso País.
Quanto às perspectivas 2022, da Páscoa para a frente, “os empresários estão ainda apreensivos com o impacto que a recente guerra na Ucrânia terá na operação, não esquecendo que a pandemia ainda afecta o sector”, sublinha Purificação Reis.
“Constata-se que, ao contrário do habitual, as reservas são agora efectuadas mais em cima da hora e que as reservas efectuadas com muita antecedência sofrem cancelamentos frequentes”.
Depois de quebras no alojamento de 78% em 2020 e 64% em 2021, comparativamente com 2019, “o sector espera que em 2022 se recupere alguma normalidade no fluxo turístico e, consequentemente, uma evolução significativa dos números dos turistas”.
Para tal, sublinha a dirigente, “é fundamental a recuperação da mobilidade e a confiança na segurança do destino. Em termos globais sente-se a recuperação de algum optimismo no sector”.
“Estou confiante que este será um ano razoável”, diz Jorge Heleno, considerando que com a guerra na Ucrânia Portugal pode ser um destino mais escolhido pelos europeus.
Também Pedro Pereira arrisca esperar “alguma melhoria” daqui para a frente, “mas ainda longe” do que era a realidade em Fátima antes da Covid-19.
“Estávamos a sair bem da pandemia, mas a guerra na Ucrânia veio trazer instabilidade e incerteza, principais inimigos do turismo. Ninguém viaja se não sentir segurança. O mercado coreano, por exemplo, importantíssimo para Fátima, ainda não retomou”.
A actividade turística no Centro de Portugal registou em Fevereiro “números que se aproximam dos níveis pré-pandemia, o que deixa antever um ano de recuperação para o sector nesta região”, aponta o Turismo Centro de Portugal.
“Os empresários do sector turístico começam finalmente a ver uma luz ao fundo do túnel. Esta é uma conclusão a retirar da estimativa rápida divulgada [no final de Março] pelo Instituto Nacional de Estatística”.