Dão-lhe 1 milhão de euros para um projecto de voluntariado: onde é que os aplica?
Um milhão de euros torrava na contratação da melhor agência de marketing que criasse a campanha mais fantástica contra todas as formas de discriminação e violência. A educação é a base de tudo.
O voluntariado não é demasiado importante para ser deixado aos voluntários?
Pode até ser mas enquanto o trabalho social ou a economia social ou o terceiro sector for secundário, temos que deixar os voluntários trabalhar. Os bombeiros são voluntários e fazem um trabalho brilhante.
A luta anti-pobreza é uma luta com rede ou sem rede?
Só pode ser com rede. A pobreza só se pode combater com sentimento comunitário. A comunidade é a maior rede social. Não tenho dúvida que aí regressaremos um dia. Talvez numa próxima geração.
Alguém que a inspira.
Algumas pessoas. Mas vou escolher o Woody Allen porque quando preciso de inspiração na alma, uso e abuso. Para acabar de vez com a cultura é dos melhores antidepressivos no mercado. No ecrã, as Faces de Harry.
Recebe outro milhão de euros, desta vez para investigar em Leiria: que tema escolhe?
Ui! Isso agora… corrupção? Abuso de poder? Em Leiria ou em qualquer outro lado. Um milhão de euros por mais e melhor justiça. Por uma Leiria mais humana e mais verde. Ou então implodia aquele edifício fantástico que nasce junto ao miradouro.
Enquanto pessoa formada em Sociologia e Psicologia Social, como é que define o homo (e a mulher leiriensis?
Eu não ando na fase mais politicamente correcta. Leiria é uma aldeia. Os homens e as mulheres leirienses, como eu, são isso mesmo, aldeãos e aldeãs, mesmo vestidos de urbe. Não significa que não existam alguns bons exemplares da espécie mas são poucos. Sim, é uma afirmação pretensiosa mas… Agora mais a sério, não consigo colocar “os homens” ou “as mulheres” num só saco.
[LER_MAIS]
Está a colaborar com uma multinacional do retalho. Complete a frase: uma socióloga entra num supermercado e…
Despacha-se o mais depressa possível, corre para a caixa, paga e vai embora.
Como é um dia normal de trabalho da Patrícia Ervilha actualmente?
Como dizer… é a loucura. Saio de casa antes das oito horas, entro em casa depois das 20, trabalho a 200 à hora, absoluto excesso de velocidade mas descanso ao fim-de-semana! E gosto muito do que faço! Gostar do que se faz é o melhor trabalho possível.
Um rótulo que a define: socióloga, formadora, escritora, nenhum dos anteriores.
Nenhum dos anteriores. Coração grande. Muitas vezes ao pé da boca.
Quando se lembra dos tempos de deputada municipal, do que sente mais falta?
Das senhas de presença.
Quem está em melhores condições para salvar o mundo: políticos, sociólogos, nem uns nem outros.
Políticos nunca. Sociólogos, antropólogos, zoólogos. Todos menos os mal-amados políticos. Mas acredito sempre que é a malta mais nova que pode salvar o mundo. Sobretudo porque acredita nisso e acreditar é meio caminho para a salvação.
É uma pessoa de (muitos) projectos?
Sou uma pessoa de muitas causas mas acima de tudo tudo tenho um grande projecto que é ser a melhor mãe que o meu filho poderia ter. Essa é a maior das causas. Já fui uma pessoa de muitos projectos ao mesmo tempo. Agora dedico-me mais à preguiça. Já mereço.
Como é que faz para descontrair?
Bebo um copo de vinho tinto, fumo um cigarro, acendo a lareira. Hoje sou uma pessoa de viver devagar sempre que posso. Gosto de uma boa conversa, gosto de boa comida e de boa bebida. Menos é mais.
Que texto nunca escreveria?
Não escreveria nada que pusesse em causa a liberdade do outro. Sou tão pela diferença. Abomino qualquer preconceito.
E que texto tem mesmo de escrever?
Um dia tenho que escrever um texto sobre o amor. Mas não é para já. Um dia. Sobre amar e ser amado. Sobre abnegação.
Em que circunstâncias lhe faltam as palavras?
Não é fácil mas já faltaram… Naqueles momentos em que não controlo nada e a vida rola depressa demais faltam-me as palavras. Ou prefiro estar calada. Hoje são mais os dias em que prefiro estar calada. Não é tanto porque me faltem as palavras mas mais porque me falta a paciência.
Livros para ler antes de morrer?
São tantos ou nenhuns. Tenho tanto que ler e tenho lido tão pouco. Tenho outros que gostaria de reler como Viver para contá-la do Gabriel Garcia Marquez. Não sei bem se o queria ler ou viver. É uma coisa extraordinária.
Afastou-se da política: vai andar por aí?
Eu ando sempre por aqui mas eu entrei para o PS com 18 anos. Agora tenho 43. Dá para acreditar? Não dá. O PS que escolhi na altura está a anos luz do PS atual. A política local é assustadora. Nem eu a quero nem ela me quer a mim. É recíproco.