“Uma personagem que me deu um enorme prazer a criar, com uma vida não só bastante airada, como cheia de peripécias e atribulações, em busca do seu destino, tal como eu”, conta Paulo Moreiras, sobre o novo livro, A Vida Airada de Dom Perdigote, editado pela Casa das Letras.
O quarto romance do escritor natural de Moçambique e residente no concelho de Pombal é apresentado pela primeira vez a 15 de Fevereiro, com Maria do Rosário Pedreira, no evento literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.
A participar pela segunda vez no Correntes d’Escritas, Paulo Moreiras vai também marcar presença numa mesa com outros escritores, no dia seguinte, 16 de Fevereiro.
“Por ocasião do baptizado do filho varão, Felipe III de Espanha e II de Portugal promove festejos imperdíveis na cidade de Valladolid, sede da Corte e capital do império”, lê-se na sinopse. “E, se para aquele umbigo do mundo – onde desaguam todos os vícios, velhacarias e vilanias – concorrem nobres e ladrões, damas e rameiras, será mais do que certo que, depois de um périplo por Badajoz, Sevilha, Trujillo ou Toledo, siga também para lá Tanganho Perdigão Fogaça, conhecido por Dom Perdigote, a fim de cumprir o seu destino”.
Dom Perdigote é, segundo Paulo Moreiras, “o quinto elemento dos pícaros, a flor dos espadachins, a nata dos enamorados”.
“Este romance é uma espécie de divertimento erudito, de uma declaração de amor à cultura e à literatura de Espanha, cheio de referências não só literárias mas também geográficas, com um manancial de palavras e expressões populares de origem espanhola”, explica ao JORNAL DE LEIRIA. “Há vinte anos que leio e estudo a novela picaresca e quando decidi escrever este romance quis prestar homenagem a este género tão ibérico e tão identitário. O meu ponto de partida foi uma data, 1605, ano de publicação do Dom Quixote, considerado o primeiro romance moderno, e a cidade de Valladolid, onde então residia Miguel de Cervantes”.
Mas, conforme se avisa na sinopse, “nem tudo se apresenta de feição a este espadachim nascido no ano em que morre Camões”. Entre as muitas peripécias vividas, encontra o amor da sua vida e conhece o pintor El Greco, o escritor Quevedo e até o autor do Quixote. Porém, “será envolvido na tentativa de assassinar um dramaturgo que integra a embaixada inglesa, enviada para ratificar a paz entre as duas nações”.
Pergunta-se na nota de divulgação: “Quem o irá salvar?” Na senda do seu romance de estreia, Paulo Moreiras regressa ao género pícaro, para oferecer rigor e divertimento.
“Desde 2011 que não escrevia um novo romance. Houve uma altura em que fiquei desencantado com a literatura e foi precisamente com a leitura do Dom Quixote e do Gusmão de Alfarache na sua versão em espanhol que decidi regressar ao romance. Pela primeira vez escrevi um romance no silêncio e isso transformou toda a minha imaginação e forma de escrever. Este é um romance mais maduro, com outra profundidade, que a vida também me ajudou a compreender. Isto é aquilo que sou”, garante ao JORNAL DE LEIRIA.
“Gosto da minha tranquilidade e do meu sossego, do meu quintal, do silêncio e da solidão. A minha vida de escritor não mudou muito, mas eu sim. Por isso escrevo melhor”, acrescenta.
Anteriormente, Paulo Moreiras publicou os romances A Demanda de Dom Fuas Bragatela (2002), Os Dias de Saturno (2009) e O Ouro dos Corcundas (2011).
N’O Caminho do Burro, de 2021, reuniu os seus melhores contos.
Também escreveu sobre gastronomia, com destaque para Elogia da Ginja (2006) e Pão & Vinho – Mil e uma Histórias de Comer e Beber (2014).