Aos risos, correrias e brincadeiras que habitualmente já enchem o átrio da escola, juntam-se agora bicicletas, o som das pequenas campainhas e o entusiasmo de quem tem uma actividade física nova. Entre o parque do escorrega e os canteiros da horta, o campo de futebol transforma-se numa grande ciclovia onde uns aprendem e outros aperfeiçoam a técnica.
As bicicletas chegaram, finalmente, às escolas do concelho e estão a conquistar os mais pequenos numa guerra de atenção que pode mudar o futuro da nossa sociedade e, quem sabe, do mundo.
Quem o garante é Francesca Fonseca, de 9 anos: “Isto é incrível, devia haver bicicletas em todas as escolas para todos começarem a gostar e, quando crescerem e forem adultos, poderem ir de bicicleta em vez de carro para não gastarem muito dinheiro”.
De sorriso rasgado e orgulhoso conta que aprendeu a fazer isto “há muito tempo” com os irmãos, em casa dos avós, e que na altura até tinha rodinhas porque era difícil e caía. Equipada com capacete, luvas e joelheiras mete o pé no pedal e está pronta para começar aquela que passou a ser a sua actividade preferida na Escola Básica da Gândara dos Olivais, Leiria.[LER_MAIS]
Em grupos, os colegas arrancam na aula que ao longe mais parece uma brincadeira de um qualquer largo de aldeia de outros tempos. “É uma coisa diferente e gira”, confirma Mateus Coelho, de 8 anos, que agora aperfeiçoa ao que já aprendeu com o pai.
Andam às voltas, aceleram e abrandam consoante as indicações que recebem, dão o ar de sua graça com as campainhas e até contornam obstáculos numa proeza digna de competição.
Tudo truques que Vasco Bernardo, de 9 anos, diz que aprendeu sozinho quando o pai lhe comprou a sua primeira bicicleta. Do outro lado do campo grita que “isto é muito fixe” e mostra- se feliz por ter na escola o que costuma fazer aos fins-de-semana com os pais, o vizinho amigo e o irmão. E até acena afirmativamente com a cabeça quando lhe perguntam se gosta mais de andar de bicicleta do que jogar computador ou consola. “Porque não fico tantas horas a olhar para uma coisa que só vicia”, diz, certo da resposta dada enquanto obedece às regras dadas pela responsável pela actividade.
“As crianças estão a adorar, só querem andar de bicicleta”, conta Andreia Vitorino, 27 anos, enquanto dá uma ‘mãozinha’ aos alunos que ainda treinam o equilíbrio. Numa autêntica ginástica faz render uma hora de actividade com 12 bicicletas para mais de duas dezenas de alunos para que dê para equipar as crianças, andar de bicicleta e aprimorar as técnicas de segurança para pedalar na estrada. “O truque é adaptar e tentar criar estratégias para que seja menos difícil para mim e mais prazeroso para eles”, detalha.
Com estas aulas pela primeira vez, a coordenadora da escola mostra-se surpreendida com a quantidade de alunos que sabem andar e assume que esta poderá ser uma “excelente forma de incentivar pais, irmãos e familiares a andar de bicicleta e a praticar mais exercício físico”. “Até para o futuro, para saberem andar nas ciclovias da cidade e na estrada, é fundamental”, defende Célia Frazão, 50 anos.
Prova disso podem ser os alunos que até trazem o material de protecção de casa e o estudante que já usa a bicicleta para ir, todos os dias, para as aulas. “As pessoas acabam por canalizar as suas aquisições consoante aquilo que mais gostam”, acrescenta a coordenadora da escola, confiante de que se os pais e filhos quiserem, pode passar a ser dada preferência a bicicletas em detrimento de equipamentos informáticos como tablets e consolas.
Surpreendida e satisfeita com a iniciativa, acredita que a bicicleta deveria ser implementada na escola durante o ano inteiro, mas alerta que, para isso, “teria de haver outra logística, mais professoras e mais espaço para guardar o equipamento”.
As aulas de bicicleta estão a ser implementadas no âmbito da ‘LeiriaBike’, a iniciativa do município que pretende “ensinar e promover a utilização da bicicleta, cultivando padrões de mobilidade mais seguros e saudáveis”. Em comunicado de imprensa, a autarquia avançou que 120 bicicletas e equipamentos de protecção individual vão, ao longo do ano, percorrer 62 escolas e chegar a 2.000 alunos do 1.º e 2.º ano de escolaridade.