Portugal exportou no ano passado 347 milhões de euros de pedra, número que deverá crescer em 2018, pois até Agosto os dados provisórios já apontam para um crescimento homólogo superior a 9%.
Na última década, as vendas para o exterior subiram mais de 23%, segundo Miguel Goulão, vice presidente executivo da Associação dos Recursos Minerais de Portugal (Assimagra).
Actualmente, cerca de 28% da pedra é exportada em bruto, o que significa que 72% segue transformada para fora do País. Há cinco anos as exportações em bruto chegavam aos 35%, o que leva este responsável a considerar que tem havido uma “evolução bastante positiva”, já que que neste período de tempo as exportações de material em bruto diminuíram 7%.
Com o trabalho que tem sido desenvolvido, e se forem mantidas as mesas apostas estratégicas, caminhar-se-á para um momento em que a exportação em bruto “seja apenas marginal”, até porque, acredita Miguel Goulão, “a nossa indústria transformadora terá no futuro a capacidade de absorver toda a capacidade instalada de extração em Portugal”.
As exportações superam largamente as importações – comparando com há dez anos o sector quase duplicou a sua taxa de cobertura – mas para que tal se mantenha é preciso “continuar a ter acesso ao território”. Miguel Goulão acredita que a sensibilidade dos agentes com responsabilidades na gestão do territo?rio “é hoje muito maior”, pelo que acredita que no futuro os instrumentos de gestão “terão em atenção a realidade do sector”, que terá assim condições para “continuar nesta trajectória ascendente”.
“O sector não existe se não houver pedreiras, mas às vezes as pessoas esquecem-se disso. Uma pedreira faz buracos, faz pó. Mas sem elas as empresas transformadoras não podem executar os projectos magníficos que têm sido feitos em Portugal”, aponta este dirigente.
O sector tem-se revinventado, aproveitando para tal tecnologias de outros sectores. “Antigamente, a procura pela máxima eficiência implicava cortar tudo da mesma dimensão, o mais rápido possível. Com a evolução da construção civil e da arquitectura, os projectos passaram a ter outro tipo de abordagem, a pedra a ter outro tipo de usos e os trabalhos passaram a ser feitos à medida, o que obrigou a reivenção da maquinaria associada ao sector”, explica Miguel Goulão.
Para isso, foi buscar-se conhecimento a sectores como o calçado e mesmo o automóvel. Só que agora, “para continuar a evoluir rapidamente, tem de ser o próprio sector a produzir as suas tecnologias”. E tem de o fazer em conjunto com as empresas produtoras de máquinas que entretanto surgiram e que também já são exportadoras.
A par e passo com a transformação do sector, tem decorrido um trabalho de promoção da pedra portuguesa nos mercados externos, com a Assimagra a liderar várias iniciativas nesse âmbito.
Uma das mais recentes foi a Scouting designing with natural stone Portugal, que recentemente trouxe ao País 25 arquitectos (americanos, canadianos e ingleses) durante sete dias.
“Aproveitámos a oportunidade para os formar sobre as caracteri?sticas físico-mecânicas, as qualidades, da nossa pedra. Mas também para os aproximar das empresas”. Entre os visitantes estiveram “arquitectos muito conceituados”, com os quais é preciso “trabalhar de outra forma”.
Por norma, “as empresas do sector não têm oportunidade de criar relação em contextos diferenciados”, o que neste tipo de iniciativas é possível.
Segundo Miguel Goulão, estes arquitectos estrangeiros que estiveram na região “encontraram empresários muito sensíveis para os problemas que eles têm no dia-a-dia, no que toca a exigências das obras, mas não conheciam essa realidade. Porque normalmente não visitam as pedreiras nem têm contacto com os empresários. Julgamos que isto é fundamental e que está a resultar em pleno”.
Entre o grupo esteve um profissional de um gabinete de arquitectura com cinco mil arquitectos. “É o maior do mundo, tem um nível de especialização enorme. São dimensões às quais não estávamos habituados e às quais uma empresa média não consegue aceder sozinha. Estas iniciativas procuram precisamente fazer a ponte entre as empresas e estes profissionais”.
No final deste mês vai ser inaugurada em Londres uma rua pedonal, feita com desperdícios de uma pedreira de mármore. Resulta de um projecto do designer Michael Anastassiades, que participou numa das iniciativas da associação no sentido de dar a conhecer o sector da pedra português a profissionais de várias áreas.
[LER_MAIS] “Este tipo de profissionais preocupa-se hoje muito com questões como a sustentabilidade e o meio ambiente. Nesta visita ele disse logo que queria fazer um projecto em Londres com material que ninguém utiliza”.
O objectivo destas iniciativas é sempre colocar a pedra no centro do debate destes protagonistas, para depois se possibilitar às empresas aproveitar e criar valor. “Este tipo de projectos de grande criatividade colocam desafios enormes às empresas, que têm de evoluir para os executar”, remata Miguel Goulão.
Filstone tem pedreira em Fátima
“Valorizar cada vez mais o produto”
A Filstone é um dos muitos exemplos da transformação que o sector da pedra natural tem vindo a registar. Nos últimos anos sofreu uma “transformação abismal”, aponta Miguel Goulão, e será hoje uma das empresas com maior índice de produtividade do País.
Dedica-se apenas à extracção e da pedreira que tem em Casal Farto, Fátima, deverão sair este ano 180 mil toneladas de blocos. 98% destina-se à exportação, tendo como principal destino a China, onde tem um escritório. “Hoje já aproveitamos 100% do recurso. Trabalhamos todos os dias para valorizar o produto. Mas queremos valorizá-lo ainda mais”, afirma Ricardo Jorge.
O administrador conta que tem como objectivo valorizar a pedra vendida em blocos criando mais-valias através de parcerias com arquitectos e outros profissionais. “É um sonho meu um dia destes tentar desenvolver uma linha de produtos para interiores/design, que visa aproveitar pelo menos 25 a 30% do produto que hoje não estamos a aproveitar para blocos. No dia em que isto for possível, gostaria muito que 50% dos recursos a extrair fossem vendidos ou em bloco ou transformado para interiores/design”.
Com 80 empregados, a Filstone vai facturar 16 milhões de euros este ano.