Foi a crise que afectou o sector da construção que, em 2010, empurrou Pedro Crespo, natural de Porto de Mós, para a emigração. Primeiro para uma curta experiência na Líbia, onde estava quando eclodiu a guerra civil, depois em Moçambique, onde viveu cerca de nove anos e agora no Malawi.
Engenheiro mecânico de formação, tem, no entanto, desenvolvido todo o seu percurso profissional na direcção e fiscalização de obras, em paralelo com vários projectos de voluntariado. Nesta área, uma das experiência mais marcantes foi vivida no apoio às populações vítimas do ciclone Idai, em Moçambique.
Sem oportunidades em Portugal, onde a construção estava “praticamente parada”, Pedro Crespo viu na emigração uma oportunidade, embora confesse que na sua primeira experiência, em 2010, mais do que emigrante, se tenha sentido “um expatriado”.
“Saí com um contrato com uma empresa portuguesa e fui deslocado, como se de uma comissão de serviço se tratasse”. Nessa condição, rumou à Líbia, onde fazia a ligação entre a sua entidade patronal, que trabalhava na área das infra-estruturas (estradas, viadutos e redes de água e saneamento) e empresas e entidades locais.
Ao fim de um ano, a morte de Mouammar Kadhafi e a rebelião que se seguiu acabou por degenerar em guerra civil. Pedro Crespo ficou, juntamente com dezenas de trabalhadores, sob a alçada de uma grande construtora brasileira, que providenciou depois a sua saída da Líbia.
“Durante dias, estivemos, entre 50 a 60 pessoas, fechados numa casa. Foi uma experiência marcante, pela capacidade e frieza de nos mantermos calmos e ocupados”, recorda.
De novo em Portugal, recebeu uma proposta de uma empresa nacional, que se estava a posicionar nos mercados de Angola e Moçambique, tendo optado por este último país. Chegou a Maputo em 2011, disposto a “abraçar uma nova vida” e, confessa, não foi difícil.
Encontrou “um povo muito acolhedor”, que o fez “sentir em casa”. Pelo que, ao contrário do que aconteceu quando esteve na Líbia, onde levava uma vida de “casa-trabalho”, em Moçambique, procurou, desde o início, embrenhar-se na sociedade local.
Pelo meio, teve uma experiência de cerca de um ano no Malawi, [LER_MAIS]acompanhando os trabalhos de construção do novo corredor ferroviário, que atravessa o país, ligando ao porto moçambicano de Nacala.
Durante essa estadia, foi voluntário numa instituição de apoio a crianças órfãos, onde criou um núcleo de carpintaria. Ao fim de um ano, a empresa retirou- se do projecto e das operações em África e Pedro Crespo viu-se confrontado com duas opções: o regresso a Portugal ou ficar “por sua conta e risco” em Moçambique. Optou por se estabelecer como profissional independente em Maputo.
Foi à luta e conseguiu contratos de prestação de serviço para a fiscalização de obras para os ministérios da Educação e da Saúde, tendo também desempenhado função semelhante na construção da ponte que liga Maputo e Katembe.
Antes, esteve na província do Tete, a acompanhar as obras de um hospital distrital. Radicou-se em Fingoé, onde se juntou a um grupo de católicos, colaborando em trabalhos de reparação de estradas e de outras estruturas destruídas por uma tempestade.
Voltou a envolver-se neste tipo de acções no ano passado, na sequência do ciclone Idai que deixou um rasto de destruição em Moçambique. Começou por integrar um movimento local, em Maputo, de recolha de alimentos, acabando por ser recrutado pela Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, como coordenador de operações na Beira.
Durante três meses, teve a responsabilidade da logística que envolvia a criação de equipas, a recepção de ajuda e distribuição dos bens.
“Mexe connosco. Ninguém fica indiferente ao ver pessoas que ficaram sem nada, que faziam 10 ou 15 quilómetros para recolher a ajuda e que, no caminho, eram assaltadas e ficavam sem a comida que lhes dávamos”, recorda, emocionado, Pedro Crespo.
O último ano trouxe-lhe novos projectos. Primeiro, a mudança de Maputo para o norte de Moçambique, mais concretamente para Palma, na província de Cabo Delgado, onde se têm registado ataques de grupos armados a aldeias.
Trabalhou como director de operações de uma empresa que presta serviços a subempreiteiros que operam na exploração de gás natural, mas, com a pandemia, milhares de trabalhadores regressaram às suas terras e Pedro Crespo fez o mesmo.
Depois de muitas “complicações” para conseguir um voo para Portugal – a “TAP portou- se muito mal” – chegou em Setembro, para partir pouco depois para uma nova aventura, agora no Malawi, onde trabalha numa empresa de engenharia que opera na construção de pontes e de viadutos e que dá assistência técnica à companhia nacional de caminhos-de-ferro.