O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, diz que as pessoas que ficaram desempregadas já foram identificadas e que o futuro tem de ser encarado “com muita força”.
Haverá subsídios para que não fiquem, pelo menos, sem o ordenado mínimo, garantiu o autarca.
O incêndio que deflagrou no sábado também provocou mais de 200 desempregados no concelho. "São para cima de 200 pessoas desempregadas [no concelho de Pedrógão Grande]", afirmou Valdemar Alves, que explicou que uma das maiores empresas instaladas no parque industrial de Pinheiro Bordalo, a Enerpellets, que produzia pellets — um combustível 100% natural e renovável, constituído exclusivamente por resíduos e subprodutos de biomassa florestal — ficou totalmente destruída e que ficam no desemprego mais de 40 pessoas.
Ainda na Graça, um lagar acabado de reconstruir e equipado com maquinaria nova, bem como uma indústria de madeira, foram afectadas pelo fogo. Valdemar Alves disse que o futuro tem que ser encarado "com muita força", adiantou que o centro de emprego foi logo para o terreno e que as pessoas que ficaram sem emprego por causa do incêndio já foram identificadas.
"O centro de emprego veio para o terreno, as pessoas estão identificadas e vai haver subsídios para não ficarem, pelo menos, sem o ordenado mínimo", frisou. Já em relação aos empresários que perderam as suas indústrias, o autarca foi taxativo: "Também estão com coragem, mas é uma grande chatice".
O autarca disse mesmo que o proprietário da Enerpellets já manifestou a intenção de adquirir uma empresa falida para reinstalar a sua indústria no sector da madeira e que quer também recuperar a unidade perdida e ficar posteriormente com as duas a laborar.
Estes incêndios, que deflagraram nos concelhos de Pedrógão Grande e Góis, consumiram um total de cerca de 50 mil hectares de floresta [o equivalente a 50 mil campos de futebol] e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias. O fogo que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.
As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde. O incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Ficou dominado na manhã de quinta-feira.
Sabe-se que o extenso e desorganizado eucalitptal foi essencial para a violência com que o fogo atingiu habitações, indústrias, comércio e ceifou vidas mas, hoje, ficou-se a saber que o Governo liderado por António Costa está a promover a plantação de mais das chamadas "árvores-gasolina", precisamente nos concelhos mais afectados por incêndios florestais, onde se incluem os três do norte do distrito: Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, bem no interior da zona que já não se deveria chamar Pinhal Interior, mas Eucaliptal Interior.
Segundo o Público, que avança esta notícia, os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra Viseu, Castelo Branco, Santarém e Lisboa também estão abrangidos, não obstante a gravidade dos fogos verificados nos eucaliotais, dentro dos seus territórios.
O Governo abriu um concurso de apoio à reflorestação com eucalipto de áreas que já tenham esta espécie mas que os proprietários pretendam renovar para conseguirem um “povoamento mais produtivo”, em áreas em que a árvore já tenha tido três cortes. A denúncia é feita pelo Bloco de Esquerda, que quer este concurso anulado.
Na extensa área abrangida por este concurso estão todos os municípios do chamado Pinhal Interior afectados pelos incêndios que começaram no sábado passado em Pedrógão Grande – e são, aliás, classificados como “concelhos de primeira prioridade” no processo de candidatura.
De acordo com o anúncio datado de dia 9 deste mês e assinado pela gestora do Portugal 2020, as candidaturas abriram no dia 12 e prolongam-se até 31 de Julho. O objectivo do apoio é “promover o valor económico e a competitividade dos produtos florestais lenhosos e não lenhosos”.
Aos jornalistas, o deputado bloquista Pedro Soares disse ser uma “situação incompreensível que o Governo insista no financiamento dos eucaliptos quando há um certo consenso sobre o ordenamento da plantação, quando todos os especialistas apontam para a necessidade de se apostar num mosaico florestal que incorpore espécies autóctones e folhosas”.
E recordou a proposta do próprio Executivo para a reforma florestal: “É contraditório que haja em discussão diplomas que pretendem o controlo dos eucaliptos e o programa Portugal 2020 dê nove milhões de euros para a sua plantação em áreas consideradas de grande risco.”
A questão do eucalipto é tão premente que até o insuspeito jornal norte-americano LA Times, numa peça sobre os incêndios do fim-de-semana em Portugal, faz referência à árvore como o "vilão" desta história.
"Os eucaliptos podem potenciar incêndios mortíferos. A sua seiva é inflamável, tal como a sua casca que, durante os incêndios, voa e ateia novos focos de incêndio a cerca de 100 metros de distância [ou mais]. A Califórnia tem tido uma história semelhante com os eucaliptos que foram responsáveis pelo segundo fogo mais mortífero da história do estado norte-americano. Foi em 1991, nas colinas de Oakland, onde o fogo em eucaliptal reclamou 25 vidas."
Lusa/JORNAL DE LEIRIA