Tanto encontramos atletas na faixa etária dos 30, como com mais de 70 anos. No futebol veterano a idade não é obstáculo e o amor ao clube e à modalidade falam mais alto.
Tininho, de 62 anos, é um dos atletas que, volvidos 20 anos, continua a vestir com orgulho a camisola dos veteranos da União Desportiva de Leiria (UDL). No último sábado, quando o relógio marcava as 18 horas, o capitão entrou em campo para mais um jogo com o emblema leiriense ao peito.
“Gosto muito de futebol e do clube, onde fiz as camadas jovens durante cinco anos. Aqui temos muito respeito uns pelos outros e somos um verdadeiro grupo”, afirma Tininho, também dirigente da secção de veteranos há 10 anos.
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Iniciados há cerca de 25 anos por antigos jogadores da UDL, foi após a saída desses atletas que os veteranos começaram a enfrentar algumas dificuldades, dado o desafio de angariar novos jogadores. “As camadas jovens da UDL passaram a ter muitos atletas de fora que, após a formação, vão à sua vida”, explica Tininho.
Apesar das dificuldades, a UDL começou a época 2022/2023 com “alma nova”. “Temos muitas pessoas novas nos veteranos, que estão a dar esse contributo. Hoje temos um plantel com 30 elementos. Nunca tivemos tantas pessoas no grupo.”
Tininho é também o atleta mais velho do plantel. O mais novo tem 37 anos. “Temos muitos jogadores na faixa etária dos 40, o que nos dá uma garantia da continuidade dos veteranos”, salienta o capitão, que assegura ter como objectivo continuar a representar o clube.
Os veteranos unionistas, que treinam às quartas-feiras à noite, realizam entre 24 a 26 jogos por época e o objectivo é sempre ganhar. Acima de tudo, pela responsabilidade de defender o emblema da UDL. “Este escudo ao peito implica muito sacrifício”, salienta Francisco Trindade, que após 18 anos como jogador dos veteranos, assume agora a função de treinador.
O nome de Trindade encontra-se marcado na história da UDL, ao estar na subida do clube, pela primeira vez, à primeira divisão, tendo sido também guarda-redes do Futebol Clube do Porto.
A oportunidade de vestir a camisola dos veteranos surgiu quando o desafiaram a calçar as luvas numa partida em que a equipa não tinha guarda-redes. “Gostei de voltar ao relvado e decidi continuar”, refere o técnico unionista, de 66 anos.
Atrair atletas é dos maiores desafios
Iniciou há 40 anos e, após um período de paragem, retomou a actividade em 1997. Hoje, apesar das dificuldades em “recrutar” jogadores, o Atlético Clube Marinhense (ACM) mantém acesa a chama dos veteranos.
“Temos um grupo bastante unido e com uma grande paixão pelo futebol e pelo clube”, salienta Valdemar Soares, actual treinador e capitão dos veteranos, admitindo no entanto que “tem sido muito difícil arranjar antigos atletas do ACM”.
Para ultrapassar essa dificuldade, o clube viu-se obrigado a abrir excepções à entrada de jogadores, aceitando atletas com menos de 35 anos e que nunca representaram o ACM. “Infelizmente a mística do clube tem-se vindo a perder. Os atletas mais novos já não sentem a camisola como antigamente”, lamenta.
O atleta mais novo do grupo, que conta com 30 elementos, tem 33 anos e o mais velho 64. Do grupo faz também parte um trio de arbitragem, constituído por antigos árbitros federados, que no seu currículo contam com jogos do Benfica e do Porto.
E quem pensa que estar nos veteranos é apenas jogar e conviver, está enganado. Afinal de contas, é preciso assegurar os equipamentos, marcar os campos, gerir os jogadores disponíveis para os jogos e assegurar transporte, assim como organizar o calendário de cada época, geralmente com oito meses de antecedência.
“Convidamos as equipas com quem mais gostamos de jogar, desafiamos novos clubes e recebemos convites por parte de outras equipas”, explica o capitão e treinador do ACM, que disputa 20 jogos por época.
Presença assídua no calendário do clube marinhense é o Ginásio Clube de Alcobaça (GCA), cujos veteranos foram formados em 1995. Anos mais tarde, em 2009, foram registados sob a forma de associação.
“Os veteranos têm a vertente desportiva, mas também social. Poder transmitir aos jovens da formação a história e o amor ao clube dá uma grande satisfação”, refere Rui Alexandre, de 54 anos, presidente e jogador dos veteranos do GCA.
A associação tem actualmente 60 sócios, 30 dos quais atletas, o mais novo com 37 anos e o mais velho com 74. “Deverá ser dos atletas mais antigos a nível nacional. Ainda consegue jogar uma parte completa de 40 minutos”, conta Rui Alexandre.
No calendário do GCA, em cada época, constam entre 22 a 24 jogos e o melhor resultado é “sair dos jogos sem lesões”, brinca o presidente.
Até ao momento os veteranos do GCA não sentiram ainda dificuldades em atrair jogadores, contando com um grupo “muito coeso” e empenhado em “levar longe o nome de Alcobaça”, inclusive ao estrangeiro, onde participaram já em várias competições.
O melhor dos jogos é a terceira parte
Unânime entre os veteranos é a importância da terceira parte dos jogos: a “reunião” das duas equipas à volta da mesa. Os jantares são sempre organizados pela equipa visitada, permitindo aos atletas conviver com colegas e adversários.
Além dos jantares, os clubes procuram ainda dinamizar outras actividades e convívios, como festas de passagem de ano, viagens e participação em festas e feiras, com o propósito de fortalecer a ligação à própria comunidade e, sempre que possível, angariar mais receitas.