Gabriela Marques, investigadora da ecologia e ecossistemas da Mata do Urso, no concelho de Pombal, está a promover uma Petição Pública para o reconhecimento da Mata Nacional do Urso como “Área Protegida de Âmbito Local/Regional”.
Este passo, é explicado no documento, “acontece no decurso de várias iniciativas para valorização e preservação” desta área natural.
“Desde 2018 que, junto com um grupo de cidadãos local tem dinamizado várias iniciativas, entre elas uma dissertação de mestrado sobre a Mata do Urso, caminhadas interpretativas, duas Residências Científicas, um Bioblitz e ainda iniciativas de controlo de plantas invasoras – acácia, o eucalipto e a erva-das-pampas – ou a organização do dia Internacional das Zonas Húmidas que levou 100 alunos do AEGUIA – Agrupamento de Escolas da Guia na Mata do Urso.
O grupo de cidadãos tem feito ainda um trabalho de influência junto da Câmara Municipal de Pombal para a criação do Centro Interpretativo da Mata do Urso, empreendimento que consta no orçamento de 2025.
Ainda de acordo com a mensagem que acompanha a petição, afirma-se que o reconhecimento como Zona Húmida Protegida “permite aceder a ferramentas e financiamento para a recuperação, preservação deste bem comum para todos”.
Com uma extensão de 6.102 hectares, esta área alberga uma biodiversidade única, com ecossistemas frágeis, zonas húmidas, lagoas e aquíferos que desempenham um papel crucial no equilíbrio ambiental da região.
Apesar das diversas ameaças, entre elas plantas invasoras, como a acácia, o eucalipto e a erva-das-pampas, e factores de risco de origem natural, como os incêndios de Outubro de 2017 e o furacão Leslie, em Outubro de 2018, constatamos que as zonas húmidas da Mata do Urso conseguiram guardar muitos dos seus tesouros.
Destacamos, por exemplo, a maior população de carriços que se pode encontrar num único território.
Segundo os dados recolhidos em duas edições do Bioblitz (em 2022 e 2024), foram identificadas quatro espécies de mamíferos, répteis, anfíbios, um peixe invasor, oito espécies de aves, 18 espécies de fungos, 23 espécies de invertebrados e 114 espécies de plantas, das quais 15 são plantas exóticas, duas estão ameaçadas e 10 são consideradas raras.
Além do seu valor ecológico, que carece ainda de um maior aprofundamento científico, os valores naturais da Mata Nacional do Urso apresentam características comparáveis à Mata Nacional das Dunas de Quiaios, já considerada uma área protegida.
A Mata Nacional do Urso não é importante apenas pelo seu valor ambiental e pelos seus recursos vitais para a população local, mas também por representar a identidade de um povo, as suas lendas, tradições e história.
A cada dia que passa, estamos a perder uma parte dessa história, e a Mata do Urso torna-se cada vez mais vulnerável às alterações climáticas e à acção humana.
É nosso dever proteger e valorizar o que ainda existe e contribuir para a recuperação dos habitats ali presentes.
Actualmente, a Mata do Urso ainda não possui o reconhecimento oficial como área protegida, o que a deixa vulnerável a novas ameaças.
A Assembleia Municipal de Pombal tem a competência de reconhecer a Mata Nacional do Urso como uma Área Protegida de Âmbito Local/Regional.
Com base no Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho, que permite a criação de áreas protegidas de âmbito local e regional, solicitamos à Assembleia Municipal de Pombal que reconheça formalmente a Mata Nacional do Urso como uma Área Protegida de Âmbito Local/Regional, utilizando os seus poderes legais para classificar este espaço como “Espaço Natural de Valor” no âmbito da revisão do Plano Director Municipal (PDM).
Este reconhecimento permitirá garantir a protecção e gestão sustentada deste ecossistema, promovendo a preservação da sua biodiversidade e dos seus recursos naturais.