O mês de abril é marcado por uma iniciativa de extrema importância: o “Abril Azul”.
Este período de sensibilização tem as suas raízes num evento trágico ocorrido em 1989, quando uma avó presenciou o seu neto ser vítima fatal da brutalidade perpetrada pela própria mãe e pelo companheiro desta.
Comovida e determinada a evitar que outras crianças sofressem semelhante destino, ela colocou de forma simbólica uma fita azul na antena do seu veículo, marcando o início de uma campanha que ainda hoje se mantém.
Esta ação deu origem a um movimento dedicado à sensibilização sobre os direitos das crianças e à promoção da sua proteção.
Desde então, o mês de abril tornou-se um momento crucial para a disseminação de informação e para a mobilização da sociedade em torno das necessidades e desafios enfrentados por crianças em situações vulneráveis e suas famílias.
O símbolo da fita azul tornou-se um emblema global desta causa, representando a esperança de um mundo mais seguro e acolhedor para todas as crianças.
Bilhota Xavier, um médico proeminente especializado em pediatria, foi nosso convidado para discutir esta problemática.
Com um legado de 25 anos à frente dos sectores de pediatria neonatal e emergência pediátrica no Centro Hospitalar de Leiria, afirmou-se como uma referência a nível regional e nacional.
Ao longo da sua trajetória, Bilhota Xavier ocupou cargos de destaque, incluindo a presidência do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos e a Comissão Nacional de Saúde Materna, Infantil e Juvenil.
Ainda ativo na profissão, mesmo fora do ambiente hospitalar, mantém-se apostado na melhoria das boas práticas, nomeadamente no campo da qualidade e segurança do atendimento médico, contribuindo para a acreditação internacional do Hospital de Leiria, um marco que reforça a excelência e segurança dos serviços prestados pela instituição.
Atualmente, é presidente da Sociedade Pediátrica de Segurança, um órgão comprometido com a minimização de erros médicos em benefício de crianças e adultos.
Pediatra por vocação
Desde jovem, Bilhota Xavier nutriu a vocação médica, trilhando um caminho marcado pelo compromisso e excelência académica.
Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Coimbra, encontrou uma oportunidade de trabalho no antigo Hospital Pediátrico de Coimbra, uma oportunidade para realizar a sua missão pessoal: proporcionar melhores condições de saúde às crianças.
Confrontado com a dura realidade das altas taxas de mortalidade infantil na época, compreendeu a magnitude do desafio que enfrentaria na sua carreira.
No entanto, apesar das dificuldades inerentes à profissão, jamais duvidou da escolha feita, encontrando gratificação na resolução bem-sucedida da maioria dos casos e na esperança de um futuro mais saudável para os seus pacientes.
O ano de 2022 representou um marco na sua carreira, com a conquista de dois importantes prémios: um reconhecimento pela Sociedade de Pediatria, destacando o trabalho de um pediatra que não estava centrado nos grandes centros urbanos, mas sim em comunidades como Leiria, demonstrando que a excelência médica não se limita a determinadas localidades; e outro prémio pelo mérito na área da saúde, este último conferido pela Ordem dos Médicos e atribuído pela Câmara Municipal de Leiria.
Estas distinções foram particularmente significativas.
Refletindo sobre a sua trajetória, destaca a importância do papel do pediatra na identificação e prevenção de situações de vulnerabilidade, incluindo casos de maus-tratos.
Enfatiza que todos os profissionais que lidam com crianças são treinados para reconhecer sinais de abuso físico, psicológico ou sexual e agir em conformidade.
Sintomas como perturbação do sono, queixas abdominais recorrentes, baixo rendimento escolar e comportamento agressivo podem indicar possíveis situações de abuso, exigindo uma abordagem diligente por parte dos profissionais e da comunidade em geral.
Ele referiu a importância da comunidade educativa estar atenta e que estas ações são importantes para alertar para uma temática que continua a ser relegada na sociedade.
Ao longo do podcast, Bilhota Xavier partilha experiências marcantes da sua carreira, evidenciando a diversidade dos casos enfrentados.
Ressalta que a violência contra crianças não escolhe barreiras sociais ou económicas, podendo ocorrer em famílias de qualquer contexto.
Ele relembra um caso emblemático envolvendo pais aparentemente respeitáveis, onde sinais de abuso só foram detetados após investigação minuciosa.
Estas histórias reforçam a necessidade de vigilância constante e intervenção proativa para proteger os mais vulneráveis.
Beatriz Domingos
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990