A Igreja da Misericórdia, actual Centro de Diálogo Intercultural e um dos espaços que recebem espectáculos culturais em Leiria fechou as suas portas ao mais sui generis dos festivais de música em Portugal.
Por detrás da mudança de local, adianta o documento, está a "recente polémica gerada em torno da utilização deste espaço dessacralizado por um espectáculo de dança".
"Christian Wolz é um artista que utiliza apenas a sua voz e o projecto Rïcïnn expressa-se através do canto lírico e operático", explica Carlos Matos. O director artístico do evento organizado pela Associação Cultural Fade In, sublinha que seriam os mais poéticos e intimistas concertos da edição deste ano do Extramuralhas.
A autarquia de Leiria, que gere o espaço, anunciou em comunicado de imprensa que "os concertos do Festival Extramuralhas inicialmente anunciados para a antiga Igreja da Misericórdia [Centro de Diálogo Intercultural de Leiria], nos dias 24 e 25 de Agosto, vão ser realizados no Museu de Leiria".
No final do mês passado, algumas vozes na cidade onde Eça de Queirós viveu e tão bem descreveu no seu livro O Crime do Padre Amaro escandalizaram-se por ver fotografias de uma performance de Dança Contemporânea realizada em Abril deste ano, por alunos da Escola Superior de Dança, de Lisboa que participaram numa residência artística inserida no Festival MetaDança.
O assunto foi mesmo debatido em reunião de Câmara desta cidade que pretende candidatar-se à realização da Capital Europeia da Cultura 2020, por iniciativa dos vereadores social-democratas na oposição, Álvaro Madureira e Fernando Costa, e levou a Diocese a emitir um esclarecimento onde o Gabinete do Cardeal D. António Marto pede “bom-senso a fim de respeitar a memória histórica e os símbolos cristãos do edifício”.
"Com esta alteração, pretendemos garantir que o Extramuralhas se realize com o espírito festivo que lhe é tão caraterístico e evitar que possa ser associado a uma polémica a que é totalmente alheio. Apesar da mudança, garantimos que os concertos do Museu de Leiria terão as melhores condições para este evento que constitui um marco da programação cultural de Leiria", termina o comunicado de imprensa da Câmara de Leiria.
A Igreja da Misericórdia, propriedade de Misericórdia de Leiria, é um edifício onde a autarquia de Leiria e as Rotas Sefarad investiram cerca de 437 mil euros, a fim de participar na Rota das Judiarias e para acolher um Centro de Diálogo, baseado na cultura, e manifestações artísticas, música e actividade cultural diversa, entre elas, música, dança e exposições.
O Código de Direito Canónico prevê, no Cânone 1222, que, quando “uma igreja não puder servir para o culto divino e não haja possibilidade de a reparar”, o bispo diocesano a possa reduzir a “usos profanos não sórdidos”.