Porco no espeto, fados, rifas e almoços-convívio são algumas das iniciativas que a população de Alqueidão da Serra, no concelho de Porto de Mós, tem vindo a promover para angariar fundos destinados ao restauro do órgão de tubos da igreja paroquial, datado do início do século XVIII.
“É um pequeno instrumento, mas muito interessante. Os órgãos históricos em Portugal não são só os grandes órgãos. Num universo de quase mil, mais de 90% estão nas paróquias e são pequenos”, salienta Dinarte Machado, organeiro responsável pelo restauro de órgãos do Convento de Mafra, a quem a paróquia de Alqueidão da Serra entregou o trabalho.
A ideia de recuperar o órgão é antiga, mas foi sendo sucessivamente adiada. “Havia sempre coisas consideradas mais prioritárias”, reconhece o padre Vítor Mira, que, quando chegou à paróquia, há seis anos, encontrou o órgão numa sala de arrumos em “muito mau estado”.
A decisão de avançar com o restauro “não foi unânime”. “Havia quem achasse que o melhor era deitá-lo ao lixo”, recorda o sacerdote, que acabou por convocar uma assembleia paroquial. Dos presentes, recebeu coragem para recuperar o órgão, com os trabalhos a serem adjudicados por 39 mil euros (acrescidos de IVA).
De acordo com o último balanço publicado no boletim paroquial, já foram angariados quase 24 mil euros, verba que inclui o apoio de dez mil euros atribuído pela Câmara de Porto de Mós.
“Ainda há um esforço grande a fazer”, constata Jorge Pereira, presidente da comissão de restauro, adiantando que, depois das férias, serão retomados os eventos de angariação de fundos. Em paralelo, decorre uma campanha junto de empresas tendo também sido aberta uma conta bancária para recolha de donativos (PT50 0045 5244 4023 1531 1841 2).
“Seria uma falta de respeito para com os nossos antepassados deixar perder o legado que nos deixaram”, defende o padre Vítor Mira, que espera que o órgão volte a tocar nas celebrações natalícias deste ano. Depois, o objectivo é “sensibilizar jovens” da comunidade para aprenderem a tocá-lo, em articulação com instituições de ensino de música, e integrar o instrumento em ciclos musicais da região.
“Estamos a recuperá-lo para que possa ser tocado”, promete o pároco. Esse é também o desejo do presidente da comissão de restauro, que acredita que a recuperação do órgão será “uma mais-valia para a freguesia e para o concelho”, onde “não existe outro” instrumento do género. “Vale a pena tirar este património do esquecimento e da degradação”, afirma.
O órgão foi comprado em segunda mão pelo padre Joaquim Vieira da Rosa, antigo capelão militar que, em 1915, o ofereceu à paróquia. Segundo o padre Vítor Mira, o instrumento já não tocava há quase 40 anos. A última pessoa a utilizá-lo terá sido Carlos Vieira, professor aposentado.